Carnaval
A máscara atrás da máscara,
Cebola em finas camadas
E uma lágrima sintética rolando na face
De um Pierrot abraçado a uma vampira...
Num beco próximo, vazio, calado pelo negrume,
Alguém soluça desesperadamente por um amor que era o último,
Alguém se lança pesadamente de uma ponte após uma noite de roleta,
Alguém adormece no passeio, em posição fetal, alcoolizada.
Mas os mascarados só vêem outros mascarados
Numa noite gélida de fins de fevereiro
E o próprio bêbedo do passeio é imaterial,
Inacessível como o tempo que ninguém contabiliza,
Salvo quem adormece, tão só, num sofá, frente a um televisor,
Arrebatado pela gravidade imensa do relógio no pulso caído...
São anjos, Senhor, anjos afogados em lágrimas de sal,
Anjos desfigurados, caídos, por Vós lançados ao carnaval!
Imagem de www.artamuse.com.
Poema de Joaquim Camarinha