segunda-feira, julho 30, 2012

Mantra do mestre onírico


O relógio de areia marca a caminhada
Na continuidade eterna de um realejo hindu
Divindade abstrata para lá de Vishnu
Um Ganges diverso, o mar e a amurada

Multifacetado, o som refletido
Unifica o céu, a terra e o mar
Intensificado, esse não-sitar
Esse mantra lento e indefinido

E eis que surge o mestre, sorridente o mito
Eis o Beatle calmo que me cumprimenta
E ensina a essência que nos complementa
O som da existência além do infinito

Servidão


Aos servos não resta senão servir
E se chegam a senhores, outros servos hão de vir
Para, entretanto, servirem sorrisos sempre a fingir
Para sorrirem sem jeito a vingança por cumprir

Eles estão em toda a parte:
Nas cozinhas, nas sanitas
Nos palcos fazendo fitas
Treinando o fingir com arte

Ou sem arte, de través
Porque não são razoáveis
Nunca se mostram amáveis
E alçam-se em bicos dos pés

Aos servos falta uma peça:
Entender que todos nessa
Mesa de puzzle jogamos
Ou que me dói a cabeça

Um instante, esquece a dor...
Sorri com dever, pontual
Traz-me um cocktail tropical
E eu mudo o cartomizador

Sol, vento, chuva, estrela


O sol, o vento e a chuva dominicanas
Vivem como um só entre hordas de invasores
Que dançam o dia inteiro com estertores
Forjam atmosferas em computadores
E, devoradores, emborcam semanas.

As horas esqueceram os dias, as datas
E entre as armadilhas, redes para turistas
Como capas gastas de tantas revistas
E areais dourados a perder das vistas
Nunca se cumprem e existem abstratas.

No entanto, à noite surge um céu estrelado
Que ilumina, ténue, as flores e o poente
E ignora todo o disco-ruído insistente.
Sobre os lençóis brancos sonha então a estrela ardente
No nosso universo feliz, sossegado.
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