sexta-feira, outubro 18, 2019

Mundos perdidos


Os figos secaram nos montes
Tudo está recauchutado
Casas novas, sem sobrado
Fontes novas, novas fontes

Esvaziou-se o passado
Talvez por só existir
Na ilusão do sentir
Na verdade, em nenhum lado

O terreiro que é de terra
Foi coberto de alcatrão
E os carros de bois não vão
Aos campos, perto da serra

Bicicleta, roda em estradas
Em mil circunvoluções
Como pipas e bidões
A embater contra nadas

As coisas são o que não são
O tempo e o espaço a cair
Na curva do mundo a ruir
No vácuo da impressão

E os pomares são privados
E já ninguém se conhece
Onde o progresso estremece
E os sinos não tocam nos adros

Imagem de: UNU.pt

segunda-feira, outubro 14, 2019

Uivos


Ergues o focinho às nuvens cerradas
Eriças os pelos que rasgam o frio
E lanças na distância uivos do vazio
Que ecoam em muros, pedras encharcadas

Escutam-te outros cães e eu no escritório
Com a sensação de um sismo iminente
E rebenta o dia numa imensa enchente
De algo interminável e persecutório

Afinam o instinto de forma indiscreta
E subitamente treme o ar inteiro
Com sons anarquistas em tom flibusteiro
E enche a manhã escura música concreta

Imagem de: AnimalWised
advertising
advertising Counter