quinta-feira, março 31, 2011

Bom dia

Bom dia. Tenho aqui um poema que não consigo publicar porque o blogger mo desformata todo. Ou alguém não gosta do conteúdo e as grandes potências me colocaram sob vigilância estrita, ou os engenheiros informáticos do Google/Blogger estão a precisar de se mexer. Acho que opto pela segunda possibilidade... Assim sendo, logo que possível, ele cá surgirá - o poema, não o Desejado, seja ele quem for...

quinta-feira, março 24, 2011

Não te deixarei comer Davide Croquete!





Olhos pousam-se, gulosos, sobre o prato
Sobre o prato chato sobre a mesa lisa
E o dono da tasca, em mangas de camisa
Urra "Vai mais um croquete?" e limpa as mãos ao fato

E eu fito aqueles olhos tão devoradores
Sentindo que no universo estranho tudo é vivo
Da mesa besuntada ao predador furtivo
E que até um croquete pode ter pavores

E pode ter um nome próprio que vai repetindo
Julgando-se à imagem de algum deus bem vindo
Falar da bola e não muito mais
Espalhar coisas tolas pelos telejornais...
Se básico até, ser uma pessoa
De cabeça erguida, caminhando à toa...
Ter vida, qualquer, e o nome repete.
Não te deixarei comer, Davide Croquete!


Imagem de: http://porquetinhadeser.blogspot.com/.

quarta-feira, março 23, 2011

Dia mundial de quê?





Parece que um destes dias, contaram-me, foi o dia mundial da poesia. Esqueci-me e o meu desânimo cresce perante o facto, impede-me a recuperação, porque nunca se recuperam os dias esquecidos... Pois a poesia não precisa de um dia mundial? E a mulher não precisa de um dia mundial? E a árvore não precisa de um dia mundial? E os trabalhadores não precisam de um dia mundial? E a paz não precisa de um dia mundial? E a criança não precisa de um dia mundial? E a água, a alimentação, a asma, a juventude, o teatro, o sono, o turismo, o não fumador e a homofobia e as doenças raras... E que fazer de todos os que não têm dia mundial? Onde arrumar todos os que não celebram aniversários e com quem ou a que mesa servir o chá dos desaniversários? Não posso falar por ninguém. Talvez todos precisem de um dia mundial para existirem. A poesia, entretanto, só tem que existir. O seu dia é dedicado a quem a não lê ou não a sabe ler. E o mais provável é que me esqueça novamente do seu dia para o ano e o outro e o outro e o outro até eu próprio me tornar o esquecimento...


Imagem de: http://osonho-condeourem.blogspot.com/.

Fogo de artifício/fireworks/feu d'artifice/feuerwerk/fuegos artificiales





Soltem todos os fogos de artifício nesta terra de ninguém! Foram seis anos - seis - de antipoesia. Seis anos inteiros a jogar com os portugueses, a jogar com os portugueses contra os portugueses, a apequená-los com noções hipnóticas de grandeza, do somos todos iguais, da destruição das hierarquias que mantêm as coisas num estado de alguma solidez enquanto a hierarquia do Estado tudo engolia, esfaimada, alucinada, chica-esperta, ladra, incompetente, burocrática e inconsequente, todos os aproveitadores e os cargos partidários, todas as perseguições, toda a máquina antipoesia do partido e ai de quem com ele se metesse! Seis anos a destruir a possibilidade de inteligência e responsabilidade. Seis anos a destruir as paisagens com energias capazes de convencer os mais idealistas e gerar prejuízos permanentes. Seis anos a sustentar bancos falidos. Seis anos a complicar, a multar, a proibir. Seis anos de caciquismos, de compra alarve de votos sem imaginar sequer, ou sem querer imaginar, que os fanáticos tão depressa matam uns como aniquilam outros e que sempre odeiam ricos, poderosos e intelectuais, todos no fundo do mesmo saco caótico de ignorância incentivada. Tantas novas oportunidades perdidas para sempre! Seis anos de surrealismo a desembocar numa casa que todas as semanas pede empréstimos e pediria empréstimos até quando, ao suicídio, ao genocídio? Como parênteses, diverti-me no outro dia, escutando um ministro do partido utilizar a televisão que os nossos impostos pagam à força para propagandear a máquina e eu olhava, e eu ouvia sem ouvir, fechava os olhos e eis-me frente a frente com Marcelo, a preto e branco, numa conversa em família, num adeus até ao meu regresso, num orgulhosamente sós, na desertidão que já nenhum navio abastado chegado de Goa, Damão e Diu poderia algum dia encobrir. Seis anos de opressão, quase quarenta e oito, e ameaçam-nos com o FMI. Pois prefiro largamente escutar o Mário Branco e nem comunista sou. Prefiro alguma normalidade e uma noção de para onde vou.


Imagem de: http://galhunço.blogspot.com/.

quinta-feira, março 17, 2011

Às personalidades que desconhecem a concordância de género e número entre tanto mais





Uns afirmam que a economia estão mal
Outros que os portugueses tem que aprender
E tantas falhas discursivas dá a entender
Que faltará mesmo cumprir-se Portugal

Todos é árbitros de bancada a debitar
Sobre o periúdo terrível que perdura
Mas teriam que comer e beber cultura
Digeri-la, até, em vez de vomitar

Revoltam-se os calhaus, sorriem as pessoas
Que vivem as rotinas das suas Lisboas
E chega ainda empréstimos semanalmente
No Portugal cumprido, comprido, indolente


Imagem de: http://provafinal2012.blogspot.com/.

quinta-feira, março 10, 2011

Romaria





Aplaudem como amam como matam
Ao passar o presidente bem guardado
Não se abra uma cloaca num telhado
Não vão os populares querer abraçá-lo

Têm como símbolo antigo um galo
Com pés de barro, pés de barro servem
São tristes e alegres porque devem
E aplaudem como cantam como acatam

E então o sol brilha pelos céus
Se bem que a chuva esteja anunciada
É o círculo da vida baralhada
E não é nada, vêde bem, que não é nada
Saibamos aceitá-lo como a um deus


Imagem de: http://ceramica-da-ivhe.blogspot.com/.

quinta-feira, março 03, 2011

Sol brechtiano





O sol que aquece os relvados
Não aquece o mundo todo
Onde chove e brota lodo
Em desertos descampados
Onde crescem deserdados
Onde crescem revoltados
Os que à força são calados
Os que definham cansados
E os apaniguados
O sol não aquece os relvados
Como o faz ao meu olhar
Nem brota da escrita o rimar
Nem vibra o céu nos telhados
Onde os ritmos são esmagados
Em noticiários vagos
Em palcos distanciados
Que vejo mas nunca vi
E se verei nem eu sei
O sol só existe em si
Como tudo no universo
Na teoria das cordas
No irreal dolorido
Ou louco de alegria
E em rima como em magia
O sol brilha todo aqui


Imagem de: http://screensaver.qweas.com.
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