sexta-feira, maio 31, 2019

Um raio de sol


Os raios de sol invisíveis
Passam sobre os céus nublados
Quietos, sorriem pausados
Entre crescendos terríveis

Onde a areia cega as mágoas
E o mármore branco é disforme
Ausentam-se na linha enorme
Das águas além das águas

Eles são o sol outonal
Que enfrentou os universos
E por caminhos diversos
Regressa num tom atonal

sexta-feira, maio 24, 2019

Americana


O sol explode em mil missangas no deserto
Em sons multicolores de cascatas lentas
E alguém se lança no vazio dentro de um barril
E aterra nos fogos aos tombos em Anaheim
Fogo cruzado, não, demasiadamente óbvio
Lendas sem legendas, estradas retas infinitas
A vária confusão num homogéneo mardi gras
Em vagas do oceano e os leões em luta
Cidades desertas, poeirentas, sonolentas
Prédios apinhados como buzinas sequóias
E marchas comemoram o dia imaginado
Em que Deus abençoa crentes e ateus
E, de igual modo, segue entre as ravinas
Sol, sol, sol, em missangas no deserto
E a nação índia dança a dança dos fantasmas
Até cair em vídeos da impossível bebedeira
De um mundo em pradaria montanhosa, pantanosa
Todos levados no olho cego de um tornado
Teleportados para a Oz pentagonal das mansões brancas
Ao som, ao sol, explosivos, sonolentos
E as casas em madeira trambolhando pela estrada
São um género de tudo e uma espécie de nada

Imagem de: Youtube (Brian Wendt)

terça-feira, maio 21, 2019

Uivo


Uiva um cão qualquer uivos incontáveis
O seu uivo tido como natural
Som da criação, reflexo animal
E rói lentamente pensamentos frágeis

Uiva e não para como essas sirenes
Que cruzam estradas como toneladas
E pesam nas têmporas como marteladas
Fazendo tombar mesmo as folhas perenes

Uiva e seguem-no outros a ladrar
De guarda aos portões e às conexões
Que me rebentam com as emoções
E ao toque da festa põem-se a rosnar

Não sei se o seu uivo é por obsessão
(Junta-se-lhe agora a ave que pia)
Se prevê desgraças ou só arrelia
Sem saber sequer na mente de cão

Imagem de: Pets4Homes

sexta-feira, maio 17, 2019

Testamento vital


Tenho o corpo só de sons, palavras e colorações
O meu cérebro é um romance, o meu sangue uma colcheia
Tantos anos a passar e os sons são uma colmeia
De onde fluem ferrão, mel, razão, sonho, intuições

Doutor, quero um atestado e um testamento vital
Para descansar por instantes e para me prevenir
Contra as moléstias das artes que ainda estejam para vir
Que me façam contorcer de modo inconvencional

Há quem se dê ao hospital, quem chegue a enfermarias
Um dia que pare de ouvir e a visão seja roubada
Não quero saber do Estige (não quero saber de nada)
Dissequem-me aos bocadinhos em mesas de academias

Imagem de: coolinterestingstuff.com

quinta-feira, maio 09, 2019

Balada alada enseada sonho


Cruzaria largos mares
De fogo, de tempo e de ar
Para achar o que encontrares
Quando estamos a sonhar

Que o sonho é feito de ramos
De algodões coloridos
Alheios ao que pensamos
E próximos dos sentidos

Silva a serpente na selva
Uiva o lobo na colina
Exclama o raio sobre a relva
E o sonho flui à bolina

Cruzaria os pensamentos
As memórias nebulosas
Pela aventura dos ventos
Por entre os vales de rosas

E cruzarei o que existe
E o que existe talvez
Passando pelo que sentiste
No mundo em que nos revês

Imagem de: Jooin
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