sábado, fevereiro 04, 2006

Duas quadras e dois tercetos


Atrás de uma porta de vidro martelado
Esconde-se quem de tudo tem certeza...
Encontra-se por si mesmo acorrentado
E respira palavras sérias e tristeza.

Não esquece e a memória é para si uma doença,
Antes fora amnésico com um sorriso verdadeiro!
Mas não. Tem um confuso sentido de pertença
Que o faz a nada nunca pertencer por inteiro.

Para ele, no mundo todos estão errados
Pois não têm honra, o que quer que seja:
O seu narcótico melhor quando fraqueja.

Um turbilhão de sentimentos baralhados,
Todo coração e raciocínio inteiramente,
Mora num quadrado redondo e auto-indulgente.



Imagens de http://catsonmars.com, http://tpe.mennecy.free.fr e www.clas.ufl.edu.

Poema de Joaquim Camarinha

2 Comments:

Blogger Lila Magritte said...

Mas é certo que a memoria pode ser uma doença. Cuando nao se pode esquecer a maldade de alguns.

Mas a memoria é a salvaçao para o homen savio.

Nao é?

2:43 da tarde  
Blogger Jorge Simões said...

A memória pode ser uma doença, pode. Tão desfazada pode estar que o indivíduo pode viver num mundo totalmente fora das fronteiras do real. Há, por todo o mundo, pessoas que necessitariam de acompanhamento adequado mas que entram em esquemas de negação e total ausência de auto-análise. É problema deles quando não aborrecem o resto da humanidade ou uma parcela da humanidade, por menor que seja. E, é claro, para pessoas assim, a responsabilidade mora sempre em alguém que não eles, alguém tem que ser culpado de algo - nunca eles mesmos. São como crianças incapazes de assumir as suas responsabilidades. E existem a todos os níveis: dos indivíduos isolados a casais, passando por grupos de indivíduos organizados ou não e chegando a Governos, a nações e a grupos de nações. Trata-se de uma imensa fraqueza humana que pode levar a atitudes arrogantes e filhas directas de uma insegurança assumida/geralmente não assumida, do género "o que eu faço é sério; o que o indivíduo faz é incongruente/não tem valor/etc." e que não vejo como remediar... E, francamente, tenho mais que fazer, já que tenho a mais absoluta noção de que realmente não devo nada a quem quer que seja - mais que não seja porque também muita gente estaria em dívida comigo e, assim, estamos todos quites.
Beijocas para ambas. :)

6:37 da tarde  

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