terça-feira, janeiro 29, 2013

A geração que gosta de meter medo e quem gosta de o ter

Só para que não pareça que ando distraído... Tenho cinquenta anos. É a minha geração, mais coisa, menos coisa, que está no poder. No grande poder, no poder médio, no pequeno poder... Os outros, que ainda restam algures e que, por vício político talvez, muitas vezes fazem coro com a minha geração, estão mais para o lado da reforma; logo, são, convenhamos, figuras decorativas, anciãos que se escutam com maior ou menor atenção, com respeito e com desrespeito, mas não riscam. 
E quem foi a minha geração? A minha geração, ela mesma e um pouco abaixo, um pouco acima, terá sido provavelmente a geração mais anárquica do século XX, a geração que mais se entreteve a aproveitar a liberdade, essa palavra fluída que vai mudando de significado com o marchar dos tempos. Mesmo os mais certinhos são culpados se a culpa, nome mais moderno para pecado, for algo de perfeitamente objetivo. E quem é a minha geração? É a geração que acredita na chamada "democracia forte". A geração que, perdido todo o decoro e toda a razoabilidade, acredita nas virtudes sagradas de tudo regulamentar, tudo numerar, tudo implementar, assim, de um dia para o outro, tudo ameaçar e punir porque não são do "nacional-porreirismo" - saliente-se que não se trata de algo estritamente nacional, pelo que o "nacional" é um sintoma algo deslocado e que porreiro significa simpático, amável, compreensivo. Mas não, é preciso meter tudo na ordem (e isto traz-me à mente os ex-fumadores que se alistam na legião dos anti-fumadores mais rudes) porque de ordem entendem eles. Talvez não entendam de memória. Ou de simpatia, amabilidade e compreensão. É, também, uma geração que dificilmente sabe distinguir entre o correto e o incorreto e tanto educa os filhos como se fossem crianças, como os educa como se fossem adultos e não chega a compreender que se trata de jovens em formação, cuja formação acaba por ser feita no meio deste proibicionismo (para os outros) e mão leve (para si).
Ocorreu-me - porque todos os dias assisto a isto como um tsunami em crescendo - que os mais ingénuos, aqueles a quem Cristo talvez perdoasse porque no meio da desonestidade mostram mais honestidade e menor maleabilidade melíflua manietada por todos os medos, se tramam. E que os outros sobrevivem - porque ninguém pode viver sob a cortina escura do medo que sempre começa num aparentemente lógico e razoável "a minha liberdade termina onde começa a dos outros". Sendo tantas as liberdades, claro, devem ser tantos os conflitos de liberdades que não deve sobrar o mínimo espaço para qualquer réstea de liberdade. Ocorreu-me que no crescendo vulcânico de proibicionismos e regulamentações, cada vez mais o que era normal simplesmente deixou de ser e que o que era banal passou a ser crime. E que as pessoas - lembram-se delas, as pessoas? - têm por opções serem apanhadas desprevenidas e criminalizadas de surpresa ou tornarem-se abjetas colaboracionistas. Não falo de Vale e Azevedo. Nem sequer de Alves dos Reis. Falo de todos nós, de vós todos, apanhados neste turbilhão que, até ao momento ainda não vi propriamente melhorar o que quer que seja em área alguma. Talvez porque as grandes mudanças demoram. Ou porque grande parte delas são simplesmente absurdas ou obedecem a interesses inconfessáveis. Como vós, ou muitos de entre vós, obedeceis: meramente por medo do papão.

terça-feira, janeiro 15, 2013

Terra plana



As pessoas não têm botão de desligar
E passam pela vida apressadamente
Pela lenta vida tão nervosamente
Ou sem saber bem o que pensar

Porque a vida é simples como A, B, C
Ou 1,2,3, conta-se à vontade
Do momento, quem sabe o que é verdade?
E a vida é, dia-a-dia, o que não se vê

Podemos estar sentados sobre uma lixeira
Ou vogar no sol que aquece os sentidos
Como a nau perdida dos que são esquecidos
Vogando à deriva até ao fim da terra
Onde os monstros grassam na mente que aterra
E vogar tão longe, sempre, sempre à beira

Imagem de: www.creationrevolution.com
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