sexta-feira, junho 30, 2017

A arte não morreu antigamente


A arte não morreu antigamente
No bloco ilusório ilimitado
Que é o espaço-tempo dos sentidos
Talvez eu me tenha deslocado
Talvez eu me tenha transformado
Ou talvez já existisse inteiramente
E a arte não morreu antigamente
Bendita seja a criação eterna
Na sua perfeita imperfeição
E a moda e o fluxo e a ilusão
E o final juízo que nos mói
E a arte do prazer mesmo se dói
Louvadas sejam todas as correntes
E as suas searas e sementes

Imagem de: www.emerson.com

quarta-feira, junho 28, 2017

"Two turntables and a microphone"



Nunca faças planos sérios sobre ti mesmo
Porque os deuses riem-se como tu te rias
No tempo em que dormias agarrado a um peluche
E antes de lhe estraçalhares o pescoço azul de felpo
Sem que o imagines remodelaram a creche
E esqueceram-se de te ir buscar ao fim da tarde
Por isso, ri com os teus planos e sorri
E toma-os a sério como quem toma café
Ou uma piña colada junto ao coqueiral
A verdade, a verdade
A verdade é que nunca me ocorrera antes
Que o Beck tivesse andado a ouvir os Doors
Enquanto rolo sob o céu seminublado
É a rádio que mo revela sem mais
Sobre o asfalto negro do caminho repetido
E a verdade, a verdade
Sem maiúscula como dizem que alguém foi
É que sempre amei os sons mais que eles a mim
E por isso brinco com as palavras e os versos
Para não bigbangar em todas as direções
Tornado incompetente no criar de universos

Imagem de: Classic Aletrnative @ Twitter





sábado, junho 17, 2017

Os gritos silenciosos


Vejo os camiões passar
Junto às árvores derrubadas
Entre casas descascadas
Como exclamações no ar

E além de etéreos compridos
Vive o delírio da cor
Que artifica a humana dor
A buzinar nos ouvidos

O cancro gargalha sozinho
Com a diversão que traz
A convicção tão sagaz
De que o mal é o vizinho

E buzina como um louco
Mata a rua convencida
De que é grande e que tem vida
Buzina até eu ficar rouco

E a rouquidão é saudável
Silêncio com o bloqueio a Cuba
Os icebergues aos saltos
Os assassínios no ecrã
Regras rígidas de interesses
Safam-se como bem podem
Por mais que se grite e buzine
O cancro ri com cinismo
Da afonia desejável

Imagem de: Tumblr

quarta-feira, junho 14, 2017

Poema aparentemente mórbido que não o é realmente


Eu não tenho qualquer terra
Mesmo se a terra me tem
Norte, sul, oeste, leste
Cima, baixo, lado, adiante
Não passo de um Che diferente
Sem causas e sem bravura
Que dura nesta andadura
A minha terra é a Luísa
A minha terra é o Alexandre
Os meus pais, a minha avó
Os meus amigos na vida
A minha terra mental
E além da cintura de Kuiper
Para lá da GN-z11
Além da bolha inicial
Além da implosão final
Quero as cinzas, ossos, alma
Dispersos por quem me amou

Imagem de: rajveerspace.blogspot

segunda-feira, junho 12, 2017

A víbora


Vislumbro o olhar triangular entre as ervas do jardim
O cinzento-azul, a mancha escura em zig-zag em direção a mim
Fita-me selvagem, sensual, ereta e silva em tom aberto
Porque não saboreias o sumo que gratuitamente te oferto
Perante a minha nega gargalha e diz estar a ver mal
As tonturas do veneno são o que me tornará real
Com um bastão que apanho do cascalho fino
Quebro-lhe o pescoço num súbito crac assassino
Pobre víbora, obediente ao Deus fatal
Quem a poderá acusar por ter sido natural
Com um crac assassino elimino a inimiga
A acusadora na inocência e sigo com a vida

Imagem de: Animais - Cultura Mix

domingo, junho 11, 2017

Raios solares


Os raios do sol dão existência
Em câmara ardente de intenso vibrar
Flamejam no vácuo, trespassam o ar
E soam no canto próprio da essência

E eu sou e faço-me raio solar
Cresço em florestas de paciência
Percorro oceanos de luminescência
E sou apenas o meu respirar

Que ritmo palpita na luz da ciência
Que canto floresce no jardim do falar
Que é a intuição senão a experiência
Que nos faz viver e nos vem matar

Os raios solares na sua insistência
Lutam inglórios na impermanência
E toda a beleza é alveolar
Verões imaginados que queremos sonhar

Imagem de: National Climatic Data Center

quinta-feira, junho 01, 2017

It was fifty years ago today


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