sexta-feira, outubro 31, 2008

Outono





Raios de ouro baço trespassam as camadas vespertinas
De nuvens preguiçosas tombando sombras no mundo
E as ruas e as avenidas onde tudo quase flui
E as memórias liquefeitas do que fomos do que fui
E as folhas atravancadas na relva frágil ao fundo
Dos horizontes mutantes geram melancolias finas
O outono é já passado com roupagens de presente
Construído só de imagens e miragens no poente
Em breve com a nova hora virão a noite e o vento
E louca doce e varrente a chuva do esquecimento


Imagem de: www.trekearth.com (fotografia de Rob Dutton).

sábado, outubro 25, 2008

Portugal anão cabeçudo





Entra um anão furioso no hemiciclo e exclama
Sou o dono do universo e o dono do seu reverso
Jogo com a vida triste como vivo com o jogo traste
E jogo uma roleta russa faço fogo muito fogo
E venço venço sempre oportunidades novas
E quem não estiver comigo só pode estar contra mim
Sou o início e sou o fim
Um dia a roleta encrava e crava uma bala só
Batem palmas os anões e o ciclo recomeça
E inaugura-se outro circo e a dor na minha cabeça


Imagem de: www.trekearth.com.

quarta-feira, outubro 08, 2008

Enterra o focinho

Baú de Memórias



Enterra o focinho bem na areia, cão
Na linha da sombra que rebate o marulhar
Onde o teu faro se pode perder no chão
E os meus pensamentos se vão enterrar

Fecha-me bem essas pálpebras castanhas
Qual cólica mole e mal imaginada
Longe do sol queimador de entranhas
Longe da vida e da luz torrada

Enterra o focinho e deixa-me ficar
Crente que também posso ser assim
Imerso em funduras, só a sonhar

Enterra o nariz negro bem até ao fim
Como uma rosca por desenroscar
Total simbiose, totalmente em mim

12 de Janeiro de 2000




Imagem de: www.photographyblog.com (fotografia de supersajanas).

quarta-feira, outubro 01, 2008

Um abraço

Gostaria de pedir desculpa aos meus leitores pela ausência, ou quase ausência, de poemas recentes. É que a vida encontra-se, presentemente, em rota de colisão com a arte. Como alguns saberão, para ganhar a vida tenho que dar aulas ao secundário. Bom, sucede que este ano tenho um horário pesado a vários níveis, quer de número de horas a cumprir com todos os tempos lectivos e não-lectivos, quer de níveis etários e comportamentos-responsabilidade de muitos dos alunos, quer da obrigatoriedade de me deitar sempre cedo e acordar cedo para a actividade plena, quer do peso de uma avaliação a que estou sujeito e que se pauta por uma extrema vigilância e burocracia. Pronto, não estou a queixar-me. Sucede simplesmente que me sobra pouco tempo mental para a poesia. Mesmo se diariamente me digo que quero escrever algo mais do que as papeladas obrigatórias e estéreis. Se tudo correr pelo melhor, em breve recuperarei alguma verve e aqui regressarei com o que de facto mais me importa. Até lá, um abraço grande.
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