domingo, junho 18, 2023

Alguém andou a brincar com os meus poemas...

... o que é absolutamente inominável. Mas seja, cada um diverte-se à sua maneira. 

 Recebi a seguinte comunicação do Blogger, relativa a três poemas: Osama, de Joaquim Camarinha, meu antigo heterónimo (15/02/2006), Quarta-feira de cinzas (19/04/2006) e De que serve a primavera: "Como você sabe, as diretrizes da comunidade delimitam o que é permitido e proibido no Blogger. Sua postagem com o título xxxxx foi sinalizada para revisão. Concluímos que ela viola as diretrizes e cancelamos a publicação do URL xxxxx , que está indisponível para os leitores. Por que cancelamos a publicação da postagem do seu blog? Seu conteúdo violou nossa política contra malware e vírus. Acesse a página "Diretrizes da comunidade" vinculada a este e-mail para saber mais."

 Como não tenho disponibilidade para andar a deslindar que diabo se passa com esses urls, republico os três poemas em causa de seguida:

Osama (de Joaquim Camarinha) 

Os bandidos de uns são os heróis de outros 
E, conta-me a experiência, heróis e bandidos 
São todos recordados como desenhos animados 
- onde fica o ser humano e o que pretendeu ser? 
O pó da terra mistura-se, um dia, ao vento do grande deserto 
Que encontra o seu caminho por entre narinas apáticas 
E se afunda, enfim, no lenço, no saco, no contentor... 
Escolheste o teu caminho, se escolheste, 
Se alguém chega a escolher alguma coisa, 
E foste terminar-te numa imensa cratera estéril... 
Sobre ela move-se o universo indiferente 
E o vento estelar engolindo todas as pegadas. 

Quarta-feira de cinzas 

Hoje é quarta-feira de cinzas 
Sem ser quarta-feira de cinzas, 
Pelas cinzas de todos os cigarros, 
Pelas cinzas das braseiras do passado, 
Pelas cinzas que volteiam pela curva temporal... 
Nas ruas, em dias de cinzas, 
Não há rectas nem espirais. 
Somente rasgos de tintas 
Que escorregam além-telas, 
Enganam os deuses à passagem, 
Perpassam os olhares das deusas 
Que nunca parem fins nem princípios. 
Belíssimo caos da anarquia natural, 
Tão bem oculto por pinturas indeléveis! 
Vejo-os felizes, infelizes, indiferentes, enganados, 
Convictos de que os relógios marcam horas concretas, 
De que Deus zela por cada livre-arbítrio, 
Certos da ordem, que é a maior das excentricidades... 
Amanhã visitarei a minha sepultura abandonada 
Onde jazem todas as ilusões, todos os projectos, 
Lançarei ao ar as minhas cinzas em slow motion 
E deixar-me-ei submergir por essa chuva suave... 
Hoje é quarta-feira de cinzas 
E, amanhã, quarta-feira uma vez mais. 

De que serve a primavera 

De que serve a primavera, 
O canto das aves canoras, 
Se tudo em mim degenera, 
Se em mim se arrastam as horas? 

Se os raios solares me encandeiam 
Como lanças do divino 
Quando os campos se incendeiam, 
De que serve o sol a pino? 

Tudo é lento e arrastado, 
Reflexos, o tempo parado, 
Artificialmente triste... 

E nada efectivamente existe. 
Ouço-os rir, conversar, 
E eu, alma penada a pairar...
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