Carnaval
A máscara atrás da máscara,
Cebola em finas camadas
E uma lágrima sintética rolando na face
De um Pierrot abraçado a uma vampira...
Num beco próximo, vazio, calado pelo negrume,
Alguém soluça desesperadamente por um amor que era o último,
Alguém se lança pesadamente de uma ponte após uma noite de roleta,
Alguém adormece no passeio, em posição fetal, alcoolizada.
Mas os mascarados só vêem outros mascarados
Numa noite gélida de fins de fevereiro
E o próprio bêbedo do passeio é imaterial,
Inacessível como o tempo que ninguém contabiliza,
Salvo quem adormece, tão só, num sofá, frente a um televisor,
Arrebatado pela gravidade imensa do relógio no pulso caído...
São anjos, Senhor, anjos afogados em lágrimas de sal,
Anjos desfigurados, caídos, por Vós lançados ao carnaval!
Imagem de www.artamuse.com.
Poema de Joaquim Camarinha
5 Comments:
Qué bello poema y qué triste, como todas las máscaras del mundo.
Abrazos y besos sin antifaz.
gosto muito deste mas porque és sempre tão negro?
Feliz por gostares. E boa pergunta (embora não seja sempre "tão negro")... Se me conheces de algum lado, sabes que não sou sempre tão negro. Se não me conheces, enfim, ficas a saber. Trata-se, portanto, de uma opção estética. Não só? Não só, mas também. Pergunto-te: porque é que gostas deste? Ou, eventualmente, de outros? Por, de algum modo, descerem às profundezas da existência, mais que não seja numa tentativa humilde (mas sem exageros, falsa modéstia é decadência hipócrita!) de o fazer... Olha a poesia à tua volta, quase toda... Emociona-te? Ou são amontoados de palavras ressequidas ou são tão suavezinhos e cheios de lugares comuns não incomodativos que não podem sequer aproximar-se de despertar qualquer tipo de emoção em quem quer que seja. Interroga-te: de que poetas gostas realmente? Porquê? É que para fazer versinhos descoloridos não falta gente. Mas esses versinhos interessam-te? Despertam-te a curiosidade? Ainda pensas neles passados quinze minutos? Logo vês... não sou "negro". A vida é que tem facetas negras; ou complexas; ou irónicas; certamente fortes, em todo o caso. Melhor ou pior (isso, isso é uma questão das prferências estéticas do leitor), vou beber os meus versos à própria vida e mais além. Tanto quanto sei, pelo menos. E isso, mais do que andar à procura de palavras indecifráveis em dicionários, é o que faz da minha poesia poesia. É a minha opinião pessoal e se assim não fosse dedicava-me a fazer tricot, sejamos honestos. Abraço, caro(a) anonymous e espero ter respondido aproximadamente à tua interrogação.
Deve ser estranho falar com um desconhecido que no entanto sabe quem tu és. E na verdade acho que por vezes te rodeia uma certa aura negra. Talvez cinzenta. E porquê? Por ser Inverno? às vezes pareces uma grande criança triste...
Caro(a) anonymous,
se me conheces poderás identificar-te. Essa da grande criança triste poderia ficar pra a posteridade, a haver uma posteridade, porque pode carregar em si inúmeros sentidos: positivos, negativos ou nem por isso. Eu sou quem sou. Eu vejo o que vejo. Eu sinto o que sinto. E eu transmito. Não conto mentiras. E não falo de passarinhos, de alunos que andam a aprender alegremente para um dia virem a ser o sol do nosso mundo, nem sequer poemas de amor banais. Não, tenho mais que fazer. A poesia maior é mairitariamente negra... Já reparaste? Se gostas da minha estética, obrigado. Se não, ninguém te obriga. Amigos na mesma, se somos amigos. :)
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