Eis-me em pleno estado de choque, após ter recebido o recorte de um jornal venezuelano que seguidamente convosco partilho... Joaquim Camarinha, meu heterónimo, meu irmão-gémeo da alma e fundador deste blog terá, ao que tudo indica, falecido em circunstâncias misteriosas! Prevendo que talvez vos seja difícil ler a notícia (procurem, no entanto, clicar na imagem), passo a traduzi-la, dura e seca como só pode ser uma notícia deste teor...
CIDADÃO PORTUGUÊS MORRE NO ORINOCO - Um cidadão português de 35 anos, de seu nome Joaquim Alberto de Sousa Marques Camarinha, foi encontrado na terça-feira passada, vagueando junto à selva, não longe de Puerto Ayacucho, próximo do Orinoco, pelo exército. Camarinha vestia apenas calções rasgados e sandálias e apresentava sinais de alucinação e forte desidratação.As suas únicas e constantes palavras eram "Eldorado". Prontamente transportado para o Hospital Rísquez, em Caracas, acabou por falecer, apesar de todos os esforços da equipa médica local. "Estava muito fraco. Nos seus últimos instantes, procurou falar comigo, mas tudo o que lhe pude ouvir foi "Centro do Mundo". Gostaria de deixar uma mensagem a todos os estrangeiros que nos visitam: não penetrem na selva, onde os perigos são imensos. Devem tomar consciência da existência desses perigos mortais...", disse-nos Juan Ramírez, um dos elementos da equipa médica. Em resultado de o corpo não ter sido reclamado por nenhum parente ou amigo, Joaquim Camarinha foi enterrado no Cementerio del Sur, aqui em Caracas.
Deixa-nos, assim, trágica e misteriosamente, Joaquim Camarinha, de quem tudo desconhecíamos desde a sua partida, a 1 de Abril deste ano. Foi ele quem me apontou novos caminhos na arte poética. Todos os poemas contidos neste blog até ao final de Março pertencem-lhe, passando a constituir um espólio inolvidável. Exceptuam-se apenas Alexandre, de 27 de Outubro, o segundo de Dois Poemas de Amor, de 14 de Dezembro, e Luz de Estrela, de 29 de Março, escassos três dias antes da sua partida para destino desconhecido. Desejo profundamente dedicar-lhe, por modesta que possa ser, uma elegia... Mas não me sinto capaz neste momento preciso. Joaquim, deixaste-nos cedo, mas espero que tenhas tido uma vida preenchida... Penso que sim. Onde quer que te encontres, espero que estejas feliz... Conservo ainda uma vaga esperança de que possa ter havido um engano, uma confusão de identidades, um problema de tradução! É verdade que se trata de um mero desejo, daquele sentimento de negação que brota quando perdemos alguém que nos é próximo... Mas quem sabe? Em todo o caso, não ficarás esquecido. Até sempre, Joaquim!