terça-feira, outubro 25, 2011

Vítor Gaspar: uma abelhinha plena de mel


Vítor Gaspar, primo de Francisco Louçã, é uma abelhinha trabalhadora, carregadinha de mel que, na suavidade inabitual do seu zumbir, quase nos convence. Temo, no entanto, que Vítor Gaspar acredite,  acredite convictamente, que o caminho para transformar Portugal num país mais rico (ou menos pobre; ou menos "remediado", como se dizia) será empobrecendo os portugueses por intermédio de uma escalada descendente (?) na curva salarial. Erro grave de julgamento. Quase louçanesco. Ninguém vai produzir mais ou melhor por uma recompensa cada vez menor. Ou então, só à força do chicote - e mal. Sempre mal. Como a confusão, tão nacional, entre horas de prisão e eficácia que perpassa na ideia de os trabalhadores gastarem mais meia hora diária na sua empresa em nome da competitividade. Ou a ideia tantas vezes rebatida e agora basicamente conseguida de cortar nos malditos feriados (e nas pontes, sendo que eu, enquanto professor, há muitos e muitos anos que só conheço pontes rodoviárias, ferroviárias e pedestres). Mas alguém acredita que uma empresa vai produzir coisas que não poderá escoar ou que se faz melhor em mais tempo necessariamente? É La Palice muito pura e simplesmente.
Ainda ontem escutei o professor Medina Carreira (geralmente Velho do Restelo, Cassandra, ave de mau agouro, etc., etc.) considerar otimisticamente que não deveremos voltar a saber o que é um subsídio de férias ou de Natal antes de 2020-2025. O pior é que eu acredito no professor!
O pior também, é vermos Paulo Portas, irmão de Miguel Portas e o possível peso equilibrante da balança, ufanadíssimo em missões diplomáticas a que reconheço potencial valor mas que, no que toca ao burgo diretamente, pouca diferença farão... Paulo Portas com a sua pose de homem de Estado. Por onde anda Portas quando precisamos que, muito para além do discurso, coloque algum senso de equilíbrio nas mentes zumbideiras deste PSD?

quarta-feira, outubro 19, 2011

Se...


Se eu parar de escrever sobre buracos
E sobre a escuridão gigante e o dia a dia
E o que fica além do dia a dia
E aquém do que inconvém e do que farta
Se escrever sobre aves, árvores, céus azuis
Promessas e jardins com fontanários
Num tempo que existiu na aparência
E o sol sempre no topo e não se abafa
Não sobre buracos, mas bancos dos jardins
Porque cansa, farta, enfarta como uma dispepsia
Porque enerva como a buzina no sinal
Se eu parar de escrever coisas engajadas
Eu que tanto escrevo sobre aves, árvores, céus
(mas urge entender cada significado,
as aves, árvores, céus, o próprio autor, a dita depressão,
no empirismo do exercício psicológico?)
Se eu aderir a uma sociedade em aparência
E à sociedade e a um partido e a uma associação
Se me movimentar como um coelho corredor
E brincar apenas com os buracos na poesia
Que cansa, farta, enfarta como uma dispepsia
Poder-vos-ei, enfim, agradecer o aplauso
E discorrer sobre o negrume nos ecrãs?

Imagem de: www.dailyholiday.yakohl.com. 

domingo, outubro 16, 2011

Luxo, lixo, céu, inferno...


Há, neste mundo, ruas apertadas
Escuras, fétidas, sórdidas, fechadas
E recicladores de lixo imundo
À vista mas tão longe, mas tão fundo
Que turista algum jamais os vê
(salvo em reportagens da TV).
Certo dia, um desses miseráveis,
Na sua indumentária suja e reprovável
Feita de uma traparia inominável,
Rouba a vida a um desses colunáveis.
A polícia chega e impõe-lhe feridas.
O louco! Todas autoinflingidas...
E ei-lo, muito em breve, pendurado,
Um presunto esquecido e enterrado.
Os jornais, telejornais, contam a história
No seu modo tão breve e sem memória
E as pessoas comentam: "Certamente
Um está no céu, o outro num inferno intermitente".
Bom, não serei eu a duvidar...
O inferno existe e é para se calar.

Imagem de: www.ilo.org. 

Será que ouvi bem?


Será que ouvi bem quando Pedro Passos Coelho justificou a perda total dos subsídios exclusivamente por parte dos funcionários públicos com o facto de que cobrar aos privados o dinheiro que era dos empresários não afetaria a despesa do Estado?
Numa perspetiva mais política, no sentido mais maquiavélico, poderia, perante o absurdo da justificação, crer que a ideia consistiria eventualmente em forçar uma perda de produtividade no lado da função pública de modo a angariar apoios gerais para um aliviar cego e em massa dos trabalhadores que, regra geral, são referidos por números. E gostaria muito de ser desmentido...

quinta-feira, outubro 13, 2011

A grande explosão implosiva portuguesa


Quem acredita na existência desta Europa e deste euro divididos, fora do federalismo?
Quem acredita que Portugal vai evoluir com os cortes dos subsídios de férias e de Natal especificamente para os funcionários públicos, num corte total de cerca de 20% em apenas dois anos? Onde está a grande coragem de promover o esforço por igual e o que acarreta isso de crescimento?
Quem acredita que Portugal vai crescer com a subida do IVA largamente para 23%?
Quem acredita que as empresas vão crescer e exportar por os seus trabalhadores terem um acréscimo de meia hora diária nos seus horários de trabalho?
Quem acredita que o corte de uns quantos feriados (e pontes; falam sempre como se na Função Pública houvesse pontes... Vão proibir as empresas que o desejarem de fazer as pontes que quiserem?) vão conduzir os trabalhadores a trabalhar com vontade e Portugal a progredir?
Quem acredita que alguém genuinamente vai ter vontade de dar o seu máximo para um futuro incerto e sem promessas a prazo desconhecido?
Quem conhece efetivamente medidas destinadas a melhorar a economia e a repor o (fraco) poder de compra dos portugueses?
Quem acredita nos partidos da esquerda com as suas miragens de tempos utópicos ou nos partidos de direita, desorientados face ao contrato que, liderados pelo PS, assinaram com quem lucra com a nossa dívida?
Quem acredita que não há e continua a não haver culpados dos buracos que temos de tapar, como presos em trabalhos forçados, diariamente?
Quem acredita que o principal responsável, aquele que alguns justificativamente afirmam que acreditava no que fazia (como Hitler, como Mussolini, como Salazar, como Franco, como Staline, como Átila, como...), não está de férias no estrangeiro, rindo-se a bom rir da desgraça sem fim à vista daqueles a quem chamava "os portugueses"?
Quem ainda acredita em alguém com energia positiva e construtiva?
Tu, por exemplo tu, ainda acreditas?
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