Se...
Se eu parar de escrever sobre buracos
E sobre a escuridão gigante e o dia a dia
E o que fica além do dia a dia
E aquém do que inconvém e do que farta
Se escrever sobre aves, árvores, céus azuis
Promessas e jardins com fontanários
Num tempo que existiu na aparência
E o sol sempre no topo e não se abafa
Não sobre buracos, mas bancos dos jardins
Porque cansa, farta, enfarta como uma dispepsia
Porque enerva como a buzina no sinal
Se eu parar de escrever coisas engajadas
Eu que tanto escrevo sobre aves, árvores, céus
(mas urge entender cada significado,
as aves, árvores, céus, o próprio autor, a dita depressão,
no empirismo do exercício psicológico?)
Se eu aderir a uma sociedade em aparência
E à sociedade e a um partido e a uma associação
Se me movimentar como um coelho corredor
E brincar apenas com os buracos na poesia
Que cansa, farta, enfarta como uma dispepsia
Poder-vos-ei, enfim, agradecer o aplauso
E discorrer sobre o negrume nos ecrãs?
Imagem de: www.dailyholiday.yakohl.com.
2 Comments:
Clap clap clap
Obrigado.
Enviar um comentário
<< Home