Nos idos de setecentos, já desfeitos
Na França bela, embora decadente
O povo ignaro vivia descontente
E os nobres, loucos, sorriam satisfeitos
Faliam o país com construções
Distantes das ruas lamacentas
E apagavam as nuvens pardacentas
Com o sol de festas, de celebrações
Faliam o país com corrupções
Jogando às máscaras entre tantos vícios
Enchendo os céus de fogos e artifícios
E as ruelas de duras escuridões
Mas, súbito, as estátuas ruíram
E todos os Júpiteres tremeram
E as Vénus recolheram-se, gemeram
Quando os gritos revoltosos se ouviram
Com a Bastilha inteira anarquizada
Pela turba fortemente enraivecida
Clamando pelo sangue e pela vida
Dos sugadores, a turba esfomeada
Criou-se, então, um instrumento novo
De lâmina acerada em queda funda
Lançando o sangue espesso à terra imunda
Da nobreza infame e até do povo
Todos eles repousam, hoje em dia
Em vastos mausoléus de mármore frio
Ou em valas comuns e no vazio
Que o tempo repete e a história cria
E nos livros lê-se sobre as ditaduras
Com o distanciamento do turista
Que somos todos nós no tempo autista
Sorrindo entre paredes e esculturas
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