quinta-feira, junho 30, 2011

Aos que se declaram "chocados" com o corte no subsídio de Natal

Uma pequena cantiga de escárnio moderna para os falsos chocados deste país. Tendo em conta a terra de ninguém em que nos transformaram com tantos anos de políticas ditas "sociais", aplaudo esta medida que, por uma vez, tão justamente pede o esforço de todos os portugueses e não apenas dos suspeitos do costume. Temporária se todos a quisermos e soubermos fazer temporária, trata-se de uma medida corajosa e de visão - contrariamente aos cortes habituais, facilitistas, de morte progressiva, certamente cobardes, destinados apenas a alguns.
Se me é permitido, sugiro, de igual modo, a criação mais que célere de um tribunal alargado destinado apenas a solucionar o cancro que, como tantos bem sabem, tem sido o conjunto enorme das empresas incompetentes e causadoras de uma terrível bola de neve de não pagamentos por produtos recebidos ou serviços prestados. Mortal para as empresas cumpridoras, para os seus funcionários, para a economia em geral e, numa palavra, para todos.


Chocado vai pelos montes
Por silvados e tojais
Espalhados pelos seus iguais
Que nos secaram as fontes

Mentiroso e tão seguro
Falso iludido, iludindo
Os poucos que o vão ouvindo
Finge existir no futuro

Inseguro e tão igual
Repete os gestos cansados
Dos que foram convidados
A fugir de Portugal

Chocado e tão humanista
Quer ser um malabarista
Que já poucos aguentam
Entre as bombas que rebentam
E entre os mações arrivistas
Nas chamas que lhe ardem nas vistas

Imagem de: http://dreamworldenigma.blogspot.com/

sexta-feira, junho 24, 2011

Lançamento de 13 Ideias Politicamente Incorrectas sobre a Droga


13 Ideias Politicamente Incorrectas sobre a Droga é o novo trabalho do psiquiatra Hernâni Carqueja, publicado pela Chiado Editora, com lançamento agendado para 2 de Julho, pelas 18 horas. O local será a Livraria-Bar Les Enfants Terribles, sita no número 1 da Rua Bulhão Pato, em Lisboa, ao lado do Teatro Maria Matos e junto à Avenida de Roma.
Trata-se de um inovador ensaio, escrito de modo informal, que utiliza o problema da toxicodependência para abordar questões tão importantes como a relação do homem com a natureza, a genética, a evolução, o poder, o arbítrio e a saúde mental, deixando um conjunto de interrogações sobre o modo como a saúde é vivenciada nas sociedades modernas.
Trata-se de um trabalho de fôlego - senão na dimensão volumosa, na qualidade e originalidade do tratamento dos temas abordados - que já li. Gostei e aconselho vivamente.

quinta-feira, junho 23, 2011

Élégie


Nos idos de setecentos, já desfeitos
Na França bela, embora decadente
O povo ignaro vivia descontente
E os nobres, loucos, sorriam satisfeitos

Faliam o país com construções
Distantes das ruas lamacentas
E apagavam as nuvens pardacentas
Com o sol de festas, de celebrações

Faliam o país com corrupções
Jogando às máscaras entre tantos vícios
Enchendo os céus de fogos e artifícios
E as ruelas de duras escuridões

Mas, súbito, as estátuas ruíram
E todos os Júpiteres tremeram
E as Vénus recolheram-se, gemeram
Quando os gritos revoltosos se ouviram

Com a Bastilha inteira anarquizada
Pela turba fortemente enraivecida
Clamando pelo sangue e pela vida
Dos sugadores, a turba esfomeada

Criou-se, então, um instrumento novo
De lâmina acerada em queda funda
Lançando o sangue espesso à terra imunda
Da nobreza infame e até do povo

Todos eles repousam, hoje em dia
Em vastos mausoléus de mármore frio
Ou em valas comuns e no vazio
Que o tempo repete e a história cria

E nos livros lê-se sobre as ditaduras
Com o distanciamento do turista
Que somos todos nós no tempo autista
Sorrindo entre paredes e esculturas

Imagem de: www.providingnews.com.

quarta-feira, junho 22, 2011

A ministra na FLAD no Tribunal


A ministra da Educação do governo Sócrates, talvez antiga anarquista de acordo com inúmeras fontes, que, com os seus secretários de Estado Valter Lemos e Jorge Pedreira, procurou levar a cabo a destruição do ensino público português, projecto inserido no incompreensível mas visibilíssimo plano do ex-primeiro para dominar através do medo e da inveja, está a ser acusada pelo Ministério Público por uma adjudicação, em 2005 e 2007, pelo ME, de um conjunto de trabalhos no valor de 266 mil euros que, ao que parece, terão sido pagos na íntegra apesar de apenas uma parcela dos mesmos ter visto a luz do dia. Mas há muita gente que se preocupa por o novo ministro da Educação, Nuno Crato, "ter uma política educativa de há cem anos atrás". Preocupante? Porque a memória é curta e esquivando-me ao mal estar propositadamente instalado nas escolas e entre escolas e direcções e entre escolas e encarregados de educação e entre professores e outros professores e entre professores e alunos e por aí fora, limitar-me-ei a recordar alguns casos emblemáticos do consulado de Maria de Lurdes Rodrigues ao serviço de José Sócrates e do PS...
O caso do professor Fernando Charrua - porque, em conversa particular na DREN da educadora de infância Margarida Moreira, terá lançado uma piada acerca das habilitações do então primeiro-ministro, foi despedido, tendo-lhe sido instaurado um processo disciplinar por falta ao "dever de lealdade".
O caso dos professores nas Juntas Médicas de Sócrates - Em Junho de 2007, uma professora da EB 2,3 de Cacia, em Aveiro, atacada de leucemia, viu negada a sua aposentação e foi obrigada a regressar às aulas. Em Setembro de 2007, uma professora da EB 1 de Regedoura com cancro da mama, útero e língua, viu negada a sua reforma antecipada, tendo sido forçada a regressar às aulas.
O caso do professor de música assassinado - em Fevereiro de 2010, já no rescaldo das políticas seguidas, um professor de música de 51 anos, a leccionar na EB 2,3 de Fitares, em Rio de Mouro, Sintra, lançou-se ao Tejo e faleceu, depois de um ano em que era insultado por alunos em plena escola, na sala de aula e nos corredores, sendo que testemunhas referiram que lhe chamavam "cão" e lhe davam "caduços" na nuca. A direcção nada fez. O ME considerou o caso "urgente", mas não agiu.
A todos os que não se recordarem exactamente de como os professores eram, por tantos, considerados "o cancro" do país, o que parece relacionar-se triste e directamente com casos atrás referidos, a todos os que não conseguem entender por que razão Portugal (e com ele a educação) chegou onde chegou, a todos os que têm medo da "direita" e do ministro "ultra-liberal, taliban e passadista", dedico esta pequena elegia...


Imagem de:http://clarices.bichocarpinteiro.blogspot.com/. 

sexta-feira, junho 17, 2011

Aves de Junho


Tempo de Junho, quase invisível
Com o céu espesso, cerrado a ferrolho
Quer para santos, quer para pecadores
Se não se escutam quaisquer estertores
Tudo sereno, tudo de molho
E, à superfície, nada há de sensível

Graças aos céus, canta o passaredo
No seu dia-a-dia pleno, natural
Que se escuta inteiro e ilumina a vida
Tornando mais clara a manhã comprida
Entre o casario quase escultural
O tão informal cântico sem medo

Imagem de: www.portuguesbrasileiro.istockphoto.com. 

quinta-feira, junho 09, 2011

Portugal acordou de cara lavada (final)


Cara lavada e não sorri... Porque será?
Uns continuam sempre iguais e silenciosos
Outros deliram sob focos luminosos
Outros ainda são petardos furiosos
De tanto se viver ao Deus-dará.

Portugal gatinha ainda, inseguro,
Enquanto do outro lado do oceano
Se abriga o corrupto desumano
Como em setenta e quatro, mano a mano...
Que sambe muito, longe do futuro!


Imagem de:www.stockphotos.it. 

quarta-feira, junho 08, 2011

Portugal acordou de cara lavada 4


Gostaria, igualmente, de deixar uma pequena mensagem aos partidos da esquerda chic e não-chic (apelidados pelo PS de Sócrates como de "extrema-esquerda" - o que, se bem me recordo, se costumava aplicar a grupos como a OCMLP, a FEC (ML), a UDP, o POUS, o MRPP que ainda por aí anda, o MES e tantos mais - tal como tudo o que venha à suposta direita do PS consiste em "perigosos aventureiros neoliberais e destruidores do Estado Social europeu")...
A Jerónimo de Sousa, quero deixar-lhe a minha simpatia pela honestidade e verdade bem patentes, pedindo-lhe, no entanto, que intervenha apenas em caso de real necessidade, não contribuindo por razões puramente ideológicas como força de bloqueio a um Portugal em que, a prazo, andemos todos menos na corda bamba.
A Francisco Louçã, o director ou gerente ou coordenador, nem me recordo exactamente, do BE, com quem, confesso, nunca simpatizei, tal como nunca entendi como tantos dos meus conhecidos simpatizaram, peço-lhe coisas talvez impossíveis, mas peço-as, ainda assim... Peço-lhe, antes de mais, que procure perder aquele intenso fogo lenínico do olhar que, entre outras coisas, lhe rendeu uma forte quebra nestas eleições. Peço-lhe que pondere, ocasionalmente pelo menos, como se deveria comportar e que políticas efectivamente teria que adoptar, se não se colocasse na posição do eterno descontente e, em vez disso, por algum milagre, se encontrasse face a face com o poder. O que diria Louçã ao poder e aos portugueses numa situação aquém ou além do palco? Finalmente, o meu pedido mais complicado: peço a Louçã que pare de mentir descaradamente. A minha principal razão para não gostar de Louçã é que, de cada vez que o vi pronunciar-se sobre algo de que eu realmente entendia, me pareceu que estava a falar de um universo alternativo, ou seja, como popularmente se diz, a "virar o bico ao prego". E querer taxar tudo e todos, ele que tem fama de ser um tão brilhante economista, é como voltar a 1975 e deixar de ter publicidade na TV, pelo simples facto de não haver empresas a laborar. Como querer taxar os jogos online, os quais se encontram sediados algures noutra parte do mundo... Qual seria a proposta de Louçã? Invadir as ilhas Caimão e exigir a nossa quota-parte de impostos?

Imagem de:http://g1.globo.com.

terça-feira, junho 07, 2011

Portugal acordou de cara lavada 3


Temos, agora, pela frente, anos de mudanças revolucionárias que não chamaria ideais e sim forçosas. Outra opção seria a nossa albanização.
Gostei das declarações extremamente responsáveis de Passos Coelho e Paulo Portas, os futuros primeiros-ministros de Portugal. Gostei, mais que da histeria habitual das hostes de arcanjos negros socialistas, do tom realista das palavras, das expressões, do não embandeirar em arco num momento em que apenas um louco - sabemos quem - o faria, da esperança num futuro se todos formos capazes do trabalho, honestidade e atitude positiva que tanto e há tanto têm vindo a faltar.
Há duas mensagens que, também eu, gostaria muito de deixar. Uma para Passos Coelho e outra para Paulo Portas.
Ao primeiro digo que, não se esgueirando da imagem de honestidade que quis transmitir, se consiga livrar da máquina pesada e contraditória do seu partido. Recordo-lhe ainda que é mais que provável que tenha recebido um bom número de votos que legitimamente caberiam ao CDS PP e que não o deve esquecer. Ao segundo que, não se esgueirando da imagem de honestidade que quis transmitir, deixe campo livre a muitos e extremamente competentes parceiros de partido para que efectivamente participem, colaborativamente, no futuro de Portugal - digo-o, tendo perfeitamente em conta que Portas é efectivamente um líder de gabarito e que há no seu partido um verdadeiro trabalho de casa sempre bem feito e em boa colaboração. Enfim, ainda para Portas, o meu pedido pessoal de que não se deixe envolver num tipo de papel sisudo e secundarizado que não é naturalmente o seu e que aceitou no nada saudoso governo do anafado Durão Barroso, o sempre presente representante de uma Europa que deveria existir em lugar de brincar ao faz-de-conta. (a continuar)


Imagem de:http://g1.globo.com. 

segunda-feira, junho 06, 2011

Portugal acordou de cara lavada 2


O melhor discurso da noite foi o de José Sócrates, sensível, comovido, emotivo, quase afogado no ensurdecedor mar de lágrimas e despeito quase religioso de inúmeros apóstolos. Para variar, com talvez alguma dose de realidade, o antigo primeiro-ministro afirmou despedir-se da actividade política para, por exemplo, se dedicar aos filhos - e quem se lembra de perguntar que género de relacionamento tem com os filhos que em cada momento menciona? Mas José Sócrates deveria ganhar um Óscar por mais esta excelente actuação! Primeiramente, porque vai de férias (como creio que de há tempos para cá planeava fazer) enquanto outros têm que fazer o trabalho sujo que ele mesmo preparou. De seguida, todos sabemos bem porquê... Seria interessante e extremamente moralizador em tempos de crise grave, ver José Sócrates e os seus imensos exércitos de prosélitos nomeados para incontáveis cargos de "confiança política", rejeitarem coisas como subsídios de reinserção/reintegração, grandes reformas antes do tempo, compensações monetárias por trabalhos mal realizados e que como tal foram agora sufragados, cargos importantes para quem se revelou incompetente e prepotente... Seria sério, correcto, moral e de acordo com tanta seriedade a que assistimos em mais um discurso, aquele que parecia nunca mais chegar. Mas quem sofre ainda tanto de ingenuidade que acredite sequer na possibilidade de um tal desfecho? Melhor, de um verdadeiro e muito mais saudável recomeço em Portugal? (a continuar)

Imagem de:http://g1.globo.com.

Portugal acordou de cara lavada


Dada a hora e o cansaço, venho apenas saudar o fim do mais maquiavélico consulado de destruição - de Portugal, das mentes portuguesas e do próprio PS - que o nosso país alguma vez conheceu. No decurso destes seis anos e ainda durante demasiado tempo, de cada vez que me insurgia contra o que sentia, intuía, raciocinava e presenciava, era apelidado de exagerado e catalogado de corporativista. Por fim, Portugal acordou. Demasiadamente tarde, é certo. Mas nenhuma ditadura dura para sempre e alguns bem podem erguer as mãos aos céus pelos nossos brandos costumes... (a continuar)

Imagem de: http://g1.globo.com. 
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