Ode interminável
A vida é um sonho num sonho num sonho...
Pergunte-se aos deserdados
Aos descamisados
Aos desencontrados
Aos desencorajados
Aos esventrados em todos os tons arroxeados...
Pergunte-se ao Deus que não existe nas religiões
Aos Deuses de todas as regiões
Ao Deus metafórico despersonalizado
Ao cordeiro forçosamente sacrificado
De quem jorra sangue como um recurso de estilo
Se magoa, para que serve, para que existe ou não existe
Se acorda, por vezes, alegre ou triste
Se chega a compreender-se entre tanto e tanto espelho
Se por vezes se lhe adocica o sangue coalhado vermelho...
O sonho é um sonho num sonho num sonho...
Que energia tão plena de cansaço!
Passa o carro, passa o poste, passa a casa
Passa o prado, passa o rio, passa a nuvem
Passa tudo, tão imóvel, volteando
Passa o parto e o funeral avançando
E o tempo recobre tudo como um sudário invisível
Branco de todas as cores na negridão insensível...
O sonho é um sonho num sonho num sonho...
Pergunte-se ao puto pateta no seu mundo luxuoso
O que lhe é importante, o que lhe é precioso
O que é dormir numa esteira e curvar-se receoso...
Estará alguma resposta nos cães de instinto a guardar?
Estará alguma resposta nos gatos dormindo a caçar?
Alguma resposta nos Deuses que sonham aleatoriamente
E tanto sonham com pedras como congeminam gente?
Será procurar respostas um gesto inconsequente?
Um sonho num sonho num sonho num sonho...
E não há princípio nem fim.
Imagem de: http://mylifestream.net.