Sobre Saramago depois de Saramago e os outros
Eis as cerimónias fúnebres de Saramago concluídas... Em Lisboa. Bom, tantos de nós pudemos ver e ouvir o autor exprimir o desejo de vir a ser sepultado sob uma pedra no seu jardim ou, ocasionalmente, sob uma oliveira, que bem poderíamos imaginar conspirações politiqueiras com alguma razão. Mas se Pilar, ela mesma, terá afirmado contar-se entre os últimos desejos do marido ser sepultado em Portugal, na terra-natal de Azinhaga do Ribatejo, não creio que nos restem razões para tal. Já escutar António Costa colocar Lisboa no centro da obra de José Saramago parece, pelo menos, estranho. Como parecem estranhas as pressões diversas para lhe desviar as cinzas para o Panteão. Parece estranho e desrespeitoso para com alguém que já não tem possibilidade de se expressar. Parece Lisboa, uma vez mais, sugando gulosamente as vontades e o território...
Estranha não é, de modo algum e por outro lado, a ausência de Sousa Lara no adeus ao escritor. Mas que dizer da permanência do presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, e do presidente da Assembleia da República, Jaime Gama, ambos em férias nos Açores? Tacanhez? Comodismo exacerbado? Falta de maneiras? Desrespeito certamente. Felizmente, creio bem, Saramago sentiria menos as ausências do que eu mesmo e tantos outros. E não sendo esta, nem de longe nem de perto, uma declaração de voto, não deixa de ser comida para o pensamento acerca do povo que somos e sobre as figuras máximas da nação que pretendemos ser.
Imagem de: http://img.informador.com.mx.
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