Mobilidade
Falam de sistemas móveis
Telecomunicações em inglês obscuro
Acentuam as anti-tónicas e
Omitem as óbvias arestas
Numa estética tão europeia
Estrasburgo sob o sol da Maia
O continente num roaming de placas
Portugal tectónico, telúrico
Recusam-se a pagar a tradutores
E os livros obrigatórios de instruções
Compõem uma algaraviada de intenções Imagem de: www.g27.net.
E
O café esgota-se num par de tragos amargos e a pop batida sai num assobio e palavras de ordem neutras dos altofalantes e todos procrastinam nas mesas de esplanada enquanto outros algarvam sob raios ultra-violeta e protecções totais ou trabalham ao domingo como maratonistas ao sol e descobri na net que a procrastinação é uma doença socialmente incompreendida e até pessoas razoáveis mandam as crianças afastar-se do fumo que cospem para o céu em pleno ar livre e a indústria do petróleo não pretende permitir alternativas realmente funcionais e a gripe aterrorizante passa de ecrã em ecrã e uma mão lava a outra pelo menos dez vezes ao dia e os corruptos coçam a barriga e falam por vezes da escravatura em países longínquos como universos alternativos e todos se encontram de algum modo no centro que todos invejam e desejam e não se deve beber quantidades subjectivas porque faz mal e pode ser censurável e os hipócritas afirmam que o mérito será recompensado às massas sem horário a quinhentos euros mensais e tudo é meia bola e força de excelência nacional e o fundo negro do café esfriou como um cadáver inerte ao som da pop indiscernível e todos querem atingir os cem com a pele lisa e lustrosa e a memória escorrega como um bichinho misterioso por um gargalo largo neste início do século vinte e um... Imagem de: http://images01.trafficz.com.
Como se fossem os seus pais
Aos domingos vão ao mar
Com o farnel no restaurante
E a garotada adiante
Todos juntos a gritar
Aos domingos vão à missa
Com um ar compenetrado
Ouvir o padre exaltado
E coisas da dona carqueja
Vão também à bola irosa
Para bater nos jogadores
Incompetentes maiores
Que a sua inveja acintosa
Aos domingos reunidos
Em volta dos seus talheres
Com os filhos e as mulheres
Eles gargalham divertidos
Como se não houvesse mais
Como se fossem os seus pais Imagem de: http://neatorama.cachefly.net.
Pele
Vê-se o azul venoso
Sob a pele tecido
O tendão comprido
O fio nervoso
Tudo é movimento
Visão sensação
O toque ilusão
Célula momento
Sob a pele alvar
Fluem universos
Como mares submersos
Sempre a fervilhar
Sob a pele serena
Sob a pele morena
Lençol capilar Imagem de: www.imageafter.com.
Vento
O vento veloz volteia
Em aliterações de canções
Que é feito dos meus Verões
Que sobrevivem na ideia
Que é feito daquele pomar
Do sol penetrando o Outono
Dos dias longos de sono
E a terra toda a vibrar
Que é feito de quem se perdeu
Tantas certezas partidas
No movimento das vidas
Que um temporal varreu
O sol que eu pressentira
Perpétuo, manso e enorme
O ontem que agora dorme
Como se nunca existira Imagem de: http://fantasyartdesign.com.
Aquários
Peixes coloridos, oásis esquecidos
Todos enfiados em aquários
Confinados por vidros sobre armários
E vagueiam pela rua os desvalidos
Aves esvoaçantes, rápidas, gritantes,
Todas encerradas em gaiolas
E um viciado estende a mão a esmolas
Sob o céu de nuvens tão pesantes
Outros vão de férias merecidas
Para paraísos do azul
Onde o mar murmura, lá no sul,
Histórias de atlântidas perdidas
E entretanto, na Europa quase morta
Que as ondas castigam, ruidosas,
As almas adormecem, silenciosas,
Diante do fechado em cada porta Imagem de: http://7art-screensavers.com.
Quem
As lojas encerram as portas
As gentes cerram os olhos
Bombas de gasolina
Restaurantes com cortinas
O Verão em plena cidade
Quem rebentou Sá Carneiro
E anulou Cavaco Silva
Quem forçou a nulidade
Médicos numa mesa ao lado
Falam de enfartes, tromboses
Parece que quem os tem no sono
Quase ninguém sobrevive
E o fumo do meu cigarro
E o aroma do meu café
E o cheiro dos tubos de escape
Quem ainda caminha a pé
Quem me conserta o meu carro
Quem me dita estas palavras
Sorrateiras ao ouvido
Que espécie de espírito santo
Me fala assim por charadas
E o dia cresce às golfadas Imagem de: http://portland.indymedia.org.
Carros
Os carros passam em diversas direcções
E ninguém então os supõe escangalhados
Ou sequer alguma vez encostados
Com eles passam somente sensações
É bom sentir assim tons luminosos
Tudo mecanismo, movimento certo
Tudo numa linha e a verdade perto
Num nunca jogar dados caprichosos
Deus é pois perfeito na normalidade
Espírito, ciência ou o que aprouver
Os carros rolando ao amanhecer
E tudo imutável na eternidade Imagem de: www.hollywood-tonight.com.
Amor adolescente
Adolescentes de olhar alongado, certo e vago
Abstracção de intenções, calhau em rotunda nova
Ou uma estátua de sal que desaba com a estação
Ela, a cabeça no colo, abandona o coração
Não há calças esfarripadas nem sapatos poeirentos
Nem compromissos fatais a instituições engravatadas
Vida simples e a direito numa ausência de charadas
Eu amo-te, diz ela talvez, e ele responde com um beijo
E assim se deixam ficar junto a uma árvore estival
E assim permanecem sempre na ausência do bem e do mal Imagem de: www.micheleomara.com.
Arrebentar as grilhetas
Arrebentar as grilhetas
Que aprisionam os boçais
Que acorrentam os normais
Que destroem os poetas
Arrebentar tudo em frente
Como um gigante pequeno
Como um soldado sereno
Como um bombista contente
Arrebentar com os muros
Com a certeza do amor
E nele a incerta dor
Alicerçar os futuros Imagem de: www.xcite-design.co.uk.
Oração
Olho em redor e vejo gente normal
Passam, conversam, odeiam, amam, morrem
Gente que existe, uns param, outros correm
Sorrindo à singeleza do dia-a-dia igual
São gente simples, com forças e fraquezas
Os filhos pequenos correndo no passeio
Almoços ao domingo com algum vinho de permeio
Gente normal e eu preso às profundezas
Onde eu habito tudo é fogo e escuridão
Fundos soluços e correntes a arrastar
E se me ergo arduamente, a tropeçar
Cem mil demónios me apertam o coração
Que Deus me ajude a saber ser invisível
A merecer o ar incerto que respiro
A fazer compras e a dormir sem um suspiro
A amar quem amo sem tremores e culpa horrível Imagem de: http://i8.photobucket.com.
Rato de laboratório
Quem chamou heróica à vida no limite?
À perda omnipresente, à alma doente,
Ao sono inquieto, ao mundo decadente,
Quem mitificou tudo o que não permite?
Que eu saiba, James Dean acabou rebentado
E não é um anjo da velocidade,
Não paira no campo nem na cidade
E o olhar perdeu-se, para sempre calado.
Tudo morre a tempo e há quem morra pior...
A vida de um rato preso, encurralado,
Sem fuga visível, num tempo parado,
É uma auto-morte e uma dor maior. Imagem de: http://news.bbc.co.uk.
Speaking in tongues (lhulha)
meugnin egetorp oan euq rohnes o ajes otidneb
ossof mun matsarra es euq so e soicalap me meviv euq sod
osso adac artenep euq adahlemreva zul amu
mebmat satreba samlap soiamsed sotirg
sotnev soa sarvalap sahnartse açnal rehlum amu
setneod siam setneod so serbop macif serbop so e
setnerc so acifitnas os euq otnas otiripse o
satnel mabmot eugnas e ogof ed sateugnil sa Imagem de: www.stphilipsfrisco.org.
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