segunda-feira, maio 31, 2021

Circularidade


Detesto os cães a uivar
Como desdenho as touradas
E as bestas que por nadas
Galopam para atacar

A rua que não é minha
Não pertence a ser nenhum
Como o mundo que é só um
E só gira até ao fim da linha

Tive em tempos uma rua
De boas e más memórias
No tempo em que havia histórias
E mundos além da lua

Hoje tenho cães uivantes 
E ponteiros a rodar
E vontade de os matar
E razões para os deixar
Com os seus olhares divagantes

Há horizontes nas mentes
Em tic-tacs circulares
De ideias solares e lunares
Que enchem de coisas os ares
Todas iguais e diferentes

Imagem de: Newsweek

sexta-feira, maio 21, 2021

Deus é amor


Deus é amor, é esse o discurso.
E nós, pobrezitos, não compreendemos
A história de Job e tudo o que lemos
Lázaro violentado e tudo o que vemos
A maçã vedada por quem tudo sabe
Figueira castrada contra a natureza
Abraão mandado trucidar o filho
Divisão dos homens, na torre, em Babel
Tudo e todos mortos, raiva do Dilúvio
Lot feita sal por um mero olhar
Poeira louvada no Final Juízo
A crucificação, São Sebastião
A dor que perpassa e o Senhor tão quedo
Mudo, silencioso, gritante de nada
Na Inquisição e em cada cruzada
Não compreendemos, Moisés, Deus, a Fogueira
O povo escolhido, povo preterido
Tão estranhos desígnios de fé e cegueira

Imagem de: Tate Gallery (William Turner)

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