Ninguém sabe
25 de Abril de 2012, chove, os velhinhos recusam-se a participar, fazem-se longuíssimos discursos na Assembleia das Vaidades e ninguém ouve porque ninguém tem capacidade real para escutar lengalengas. Temos, portanto, um hemiciclo cheio com alguém que fala e um público que escuta monossílabos ocasionais e um televisor que nos convida a escutar monossílabos ocasionais. Só que ninguém sabe... Ninguém sabe de nada. As populações afastadas da politiquice também não sabem de nada. Sabem que o dia a dia é constituído por barreiras que o termo banalizado "kafkiano" é demasiadamente suave para descrever e que impedem o avanço em todas as direções num labirinto de espelhos e que as palavras são levadas pelo vento, como alguém dizia. "A nossa jovem democracia...", dizia um dos peixinhos gordos daquele aquário e eu tinha mesmo acabado de dizer que eram quase 48 anos. Os portugueses, que tanto gostam de citar, e que talvez não sejam eles, não sabem senão que vivem num daqueles pesadelos infantis em que se é perseguido mas não se consegue correr, sabem aliás cada vez menos, e os velhinhos nem sabem nem querem saber dos portugueses; porque haveriam, aliás, de querer saber de algo se são tão mais importantes os seus quinze minutos de fama desmultiplicados numa plena sonolência nacional? Há quem se ria em Paris. Suponho que também os peixinhos e os velhinhos se riam na sua degenerescência geral. E pouco me importa porque me importa mas não pode nem deve importar. São as exportações que crescem e pergunto-me como - talvez haja muitos conhecimentos no seio do nosso pesadelo burocrático. Ou então, como sempre, nunca se sabe. E como ninguém sabe, partilho hoje convosco, mais do que um chatíssimo Canto Livre, os Queen of the Stone Age e o seu No One Knows. Porque ninguém sabe, sim. E, fundamentalmente, à boa maneira portuguesa, porque gosto e me apetece...