Fogo de artifício/fireworks/feu d'artifice/feuerwerk/fuegos artificiales
Soltem todos os fogos de artifício nesta terra de ninguém! Foram seis anos - seis - de antipoesia. Seis anos inteiros a jogar com os portugueses, a jogar com os portugueses contra os portugueses, a apequená-los com noções hipnóticas de grandeza, do somos todos iguais, da destruição das hierarquias que mantêm as coisas num estado de alguma solidez enquanto a hierarquia do Estado tudo engolia, esfaimada, alucinada, chica-esperta, ladra, incompetente, burocrática e inconsequente, todos os aproveitadores e os cargos partidários, todas as perseguições, toda a máquina antipoesia do partido e ai de quem com ele se metesse! Seis anos a destruir a possibilidade de inteligência e responsabilidade. Seis anos a destruir as paisagens com energias capazes de convencer os mais idealistas e gerar prejuízos permanentes. Seis anos a sustentar bancos falidos. Seis anos a complicar, a multar, a proibir. Seis anos de caciquismos, de compra alarve de votos sem imaginar sequer, ou sem querer imaginar, que os fanáticos tão depressa matam uns como aniquilam outros e que sempre odeiam ricos, poderosos e intelectuais, todos no fundo do mesmo saco caótico de ignorância incentivada. Tantas novas oportunidades perdidas para sempre! Seis anos de surrealismo a desembocar numa casa que todas as semanas pede empréstimos e pediria empréstimos até quando, ao suicídio, ao genocídio? Como parênteses, diverti-me no outro dia, escutando um ministro do partido utilizar a televisão que os nossos impostos pagam à força para propagandear a máquina e eu olhava, e eu ouvia sem ouvir, fechava os olhos e eis-me frente a frente com Marcelo, a preto e branco, numa conversa em família, num adeus até ao meu regresso, num orgulhosamente sós, na desertidão que já nenhum navio abastado chegado de Goa, Damão e Diu poderia algum dia encobrir. Seis anos de opressão, quase quarenta e oito, e ameaçam-nos com o FMI. Pois prefiro largamente escutar o Mário Branco e nem comunista sou. Prefiro alguma normalidade e uma noção de para onde vou.
Imagem de: http://galhunço.blogspot.com/.
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