A guerra contra os cigarros clássicos, ditos "analógicos" começou por um desejo de proteger os chamados
fumadores em segunda mão. É verdade que um cigarro tradicional, ainda que se fale na nicotina, um alcalóide como a tão apreciada cafeína e outros, causa combustão e liberta simultaneamente para os pulmões do fumador e para a atmosfera cerca de 400 mil substâncias, muitas delas potencialmente cancerígenas. Inclua-se cianeto de hidrogénio, amoníaco, alcatrão, monóxido de carbono e o próprio papel com a respectiva cola e fica-se com uma ideia. Mas, como sempre sucede com os grupos guerreiros, os lobbies anti-tabaco foram-se fortalecendo atitudinalmente e dificultando a vida, quase que se poderia dizer desonestamente, a todos os fumadores, transformando-os em párias e assassinos aos olhos da população sedenta de alguém a quem combater. Para quem já viveu tantos anos como eu e viu tudo o que vi, daria vontade de rir se não desse vontade de chorar - a atitude, a tendência destrutiva e autocrática, o gosto em esmagar o próximo, a necessidade de culpar os outros pelo que nos possa parecer correr mal.
Não tardou a que alguém pensasse num produto que não só salvaguardasse a saúde dos fumadores, como a de quem não suporta o cheiro do tabaco e entra em pânico só de pensar no dito cujo, após anos e anos de mentalização e propaganda. Foi assim que a China criou o cigarro electrónico ou e-cig, um produto que não contém substâncias cancerígenas, imita o gosto do tabaco e liberta para o ar mero vapor de água que rapidamente se desfaz. Em Portugal, é ainda bastante desconhecido.
Entretanto, diversos países têm vindo a proibir, limitar e contra-promover o uso dos e-cigs, enquanto os tradicionais continuam a ser livremente vendidos e a encher de impostos os sedentos cofres dos diferentes Estados. Chega-me à mente, apenas como exemplo, uma votação na Câmara de Nova Iorque que decidiu proibir os electrónicos por 125 votos contra zero - um maço de tabaco analógico, ainda que sadicamente proibido agora em parques e praias, chega facilmente aos 15 dólares! Não menciono as relações com as tabaqueiras para não especular... O que os motivará?
Eis uma lista de países que, não proibindo de modo algum os analógicos, decidiram mexer intensivamente nos electrónicos:
No Canadá, no México, na Austrália (sob o pretexto de a nicotina estar classificada como veneno pelo Departamento de Saúde), na Áustria (à espera da sua classificação como medicamento!), na Bélgica, no Brasil (por se tratar de tabaco!), na Dinamarca, no Dubai, na Noruega, em Singapura, na Tailândia, em Israel, em Hong Kong (por, como na Austrália, a nicotina ser classificada como veneno) e na Turquia, foram ilegalizados. Nos Estados Unidos, o uso é legal e a importação ilegal (espertos!). No Reino Unido, apesar de ainda legais, existe uma proposta para a sua proibição. Na Finlândia (menos espertos que os americanos) só são legais se vierem do exterior. Na Alemanha, alguns estados equiparam-no a um remédio, pelo que algumas alfândegas estão a impedir a sua entrada. Na Jordânia, apenas os cartuchos sem nicotina são legais, embora não me conste ter havido proibição dos narguilés. Nas Malásia, só podem ser vendidos em farmácias e com receita médica (os lobbies dos médicos e dos farmacêuticos devem ter-se imposto). Em Malta, são equiparados ao tabaco, pelo que não podem ser publicitados ou vaporizados em áreas públicas. Na Holanda, não podem ser publicitados. Na Nova Zelândia só podem ser importados e vendidos como medicamento. Finalmente, na Suíça, só e-cigs sem nicotina - pode-se adquirir um cigarro e até 40 cartuchos.
Isto não é poesia. Pois não. É a hipocrisia dos Estados, dos lobbies e das corporações que seguramente leva muita gente de volta aos cigarros tradicionais e aos seus malefícios tão profundamente alardeados...