As máquinas mataram os pinhais Dos Fetos, do Cuco e dos Malmequeres. Verteram-lhes cimento por cima, Expulsaram as aves e a brisa, Mataram as nascentes do passado, Trocaram-nas por canos e progresso. Deixem-se de ecologias hipócritas! Ninguém se culpa de nada E a morte cai por destino. Devolvam-me o tempo ido Ainda agora, já agora, E o pão com chouriça às cinco horas! Os tojos cobriam as colinas, Felizes que eram no seu tempo... O tempo que me aconchegava Quando passava sem saber E que era um sol gigantesco Iluminando a inocência... Dêem-me o que não perdi Porque nunca cheguei a ter, Salvo na doce ilusão Que era a vida a decorrer...
Tão desoladamente gélidas, as estações da CP!... Recordo-me, embora me não recorde Salvo de imagens a preto e branco Ou em cores naturalmente desbotadas, De velhas máquinas ruidosas, fumarentas, vivas E da movimentação humana a trinta à hora... Essas é que eram as estações da CP! Hoje, tudo é silêncio e penúria. É noite e chuvisca tristemente. Pedem-me dinheiro para a droga; Dizem-me que é uma prenda de Natal. Alguém cabeceia sobre um copo de plástico vazio. Tudo é plástico e eléctrico esta noite. E o altofalante anuncia partidas e chegadas Em palavras ininteligíveis e logo aniquiladas Como todos os discursos e os seres viventes...
Cravos, choveram já aos molhos Como agora não termina esta morrinha. Foram vermelhos, definharam E a água varre-lhes as pétalas secas Uma a uma, tão isoladas no fim Como é natural em todas as coisas naturais. Estiveram todos vivos e morreram... Uns eram melhores, outros piores, E todos poeticamente subjectivos Como a própria ciência e a religião. São necessárias rosas, Rosas de mudança, rubras, rubras, Para que pelos ciclos permanentes Que ainda fazem pulsar corações ocasionais Flua, ao menos, a ilusão da vida!
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