sábado, maio 31, 2014
quarta-feira, maio 28, 2014
Aniversários
O
meu aniversário foi há muito tempo
Tanto
que só o consigo relativizar
E
tornar Einstein numa espécie de anti-herói
Dos
sonhos desvanecidos ao despertar
Reuniamo-nos
à volta da mesa, sim
Cantávamos
a lengalenga do costume
E
nada disso me traz lágrimas aos olhos
Exceto
ocasionalmente os que morreram
Mas
nem todos os que morreram
Ou
seria eu o maior de todos os mortos
E
não sou
As tias, tios, primos, primas dissolveram-se
Os
amigos são um continuum espaço-temporal
E
eis-me no buraco negro de nós todos
Sorvendo
a luz ténue das velas agora no lixo
As
paredes não estão de todo descascadas
Porque
os muros são uma ilusão do homem
E
estou eu no centro para me aborrecer de mim apenas
Tudo
o resto é ilusão e deixo o drama para outros
Vendo
bem, todos os anos faço anos
Mesmo
gostando de dizer que só existo
É
uma pecha literária e pouco mais
Somos
poucos, mas muitos são desnecessários
Vamos
a um restaurante, bebemos vinho
Comemos
bem, cantamos os parabéns
E,
até ver, continuo a flutuar nas vagas
E navegamos normalmente
até um dia
Imagem de: www.diabetesdad.org
quinta-feira, maio 15, 2014
Recordação dos oitenta
Certo dia, há uns trinta anos, incrédulo, perguntaste
(tinhas-me visto com um vinil de JJ Cale na mão):
"Mas tu curtes essa cena, meu?
Isso é o tipo de coisa que os meus velhos têm lá em casa!"
Passado pouco tempo, estavas embrulhado em heroína
E, depois (terás tido sorte relativa) ficaste um profissional.
Entretanto, o tempo passou como sempre passa,
Arma cortante e constante do universo real...
Agora que todos somos velhos
E temos o que tivermos em casa
JJ não morreu nem nunca morrerá
Nós vamos morrendo lentamente à contagem dos minutos
E os teus ídolos techno-pop estavam mortos à nascença.
Imagem de: www.independent.co.uk