quarta-feira, maio 28, 2014

Aniversários


O meu aniversário foi há muito tempo
Tanto que só o consigo relativizar
E tornar Einstein numa espécie de anti-herói
Dos sonhos desvanecidos ao despertar

Reuniamo-nos à volta da mesa, sim
Cantávamos a lengalenga do costume
E nada disso me traz lágrimas aos olhos
Exceto ocasionalmente os que morreram
Mas nem todos os que morreram
Ou seria eu o maior de todos os mortos
E não sou

As tias, tios, primos, primas dissolveram-se
Os amigos são um continuum espaço-temporal
E eis-me no buraco negro de nós todos
Sorvendo a luz ténue das velas agora no lixo

As paredes não estão de todo descascadas
Porque os muros são uma ilusão do homem
E estou eu no centro para me aborrecer de mim apenas
Tudo o resto é ilusão e deixo o drama para outros

Vendo bem, todos os anos faço anos
Mesmo gostando de dizer que só existo
É uma pecha literária e pouco mais
Somos poucos, mas muitos são desnecessários
Vamos a um restaurante, bebemos vinho
Comemos bem, cantamos os parabéns
E, até ver, continuo a flutuar nas vagas
E navegamos normalmente até um dia

Imagem de: www.diabetesdad.org
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