quinta-feira, setembro 20, 2012

Quero o palhaço Tiririca

Pois, pois, pois, como temos o hábito de dizer cá em Portugal...

Como gostaria de ter um governo que me fizesse sentir que era minimamente capaz de prestar serviço público... Começo a pensar, a pensar, e não consigo lembrar-me de um único...

Agora, grave, grave, é o que se passa atualmente em Portugal. Mais grave, diria, do que a bizarra jogada da TSU que contraria toda a gente exceto franjas do PSD e a Comissão Europeia do Barroso. O que se passa de grave é que os portugueses têm memória tão, mas tão curta que, ao que parece, têm vontade de recolocar o PS alucinado e fascizante de Sócrates no poder, como se os seis anos que nos destroçaram tivessem ocorrido há, sei lá, pelo menos um século, e o vento tivesse varrido a realidade como varre as folhas da calçada. Grave como o papel absolutamente inconsequente do neojornalismo que parece empenhado em exercer a máxima influência, enquanto poder que se considera, poder decadente mas poder, para recolocar nos tronos todos quem durante seis anos o controlou como uma dominatrix qualquer controla um escravo deleitado. Como é que os media descem mais baixo do que os quintos dos infernos? Como é que chegam ao ponto de descartar a responsabilidade que, decadentes ou não, detêm, para se dedicarem permanentemente a viver do caos que semeiam para mais tarde se queixarem do que eles mesmos fizeram?

Grave, grave, grave, mais grave ainda do que o PS no poder como nós o conhecemos, é a notícia - verdadeira ou boateira - de que pretendem resgatar Sócrates da sua fuga francesa. E que os portugueses até poderão ir na canção do bandido. Pobres portugueses... De memória tão curtinha... Sempre, sempre a repetir-se como quem precisa de salientar que o fado é mesmo nosso e de mais ninguém - e que todas as culpas são dos outros porque nós, nós não, nós somos sempre perfeitíssimos! Pobres portugueses que assim fazem jus absoluto às anedotas de portugueses no Brasil, a cujos cidadãos agradeço as visitas repetidas e a quem peço encarecidamente: por alma de quem lá está, enviem-nos antes o palhaço Tiririca!

Os portugueses são pobres, sim, mas não Somalis. Nem coletores de lixo do Cairo. Nem habitantes das mais escuras favelas do Rio ou São Paulo. Nem sem-abrigo porque os sem-abrigo não votam. Estes portugueses capazes de colocar o PS repetidamente no poder são pobres porque querem...

Por mim, quero o palhaço Tiririca. E, quem sabe, recomeçar a escrever poesia de resistência antipalhaços...


terça-feira, setembro 18, 2012

Inaceitável

Esta é curtinha, até porque estou um pouco cansado para esgrimir palavras espirituosas...

Os trabalhadores estão revoltados com o aumento das contribuições + descida da TSU. Os empresários afirmam discordar da medida, considerada ineficaz e conducente a problemas sociais, e chegam a aventar a ideia de devolver aos trabalhadores a poupança da TSU. Os sindicatos, UGT incluída, idem aspas. No seio das próprias bancadas do PSD e do PP, há vozes discordantes. O inseguro (viram como tremia, se tiverem visto de perto durante a entrevista que deu à RTP?) Seguro ameaça com o fim do mundo antes de 21 de dezembro. Dos restantes partidos não vale a pena falar, sendo que já calculam o que acho do grande guia do proletariado e não proletariado Louçã. Vozes mais ou menos independentes levantam-se (e não falo dos quatro da vida airada da SIC Notícias cuja revolta tem que ser permanente)...

Entretanto, vem a Comissão Europeia do Barroso, contra todas as vozes, numa Europa que não é carne nem peixe e que, em alguns aspetos, parece pretender viver uma III Guerra Mundial sem recurso às armas tradicionais, faz voz grossa de gigantone grotesco, e ameaça com nem mais uma tranche se não se colocar em prática a medida, que "até foi ideia do governo".

Ora, a isto eu chamo uma intromissão sem precedentes na soberania de um estado membro.

Para não escapar à moda, direi mesmo: inaceitável.

sábado, setembro 15, 2012

Um dia bom para os jornalistas...

Hoje foi, parece-me, tenho aliás a certeza, um dia bom para os jornalistas e os comentadores. Foi ainda um dia que, para a generalidade dos portugueses, parece-me igualmente, se inscreveu na normalidade prevista e com certeza na animação e colorido previsíveis. O que se seguirá, permitam-me contrariar alguns comentadores, dever-se-á inscrever no rumo antevisto das coisas...

Eu, que já dei a minha quota-parte de comportamentos revolucionários e contrarrevolucionários em manifestações de rua, eu que me tornei num trabalhador normal e supostamente intelectual de blog (porque as teclas não escrevem, ainda e por si sós, no estado atual da tecnologia), verifiquei um facto nada curioso: as megamanifestações que hoje tiveram lugar neste torrãozito conhecido por ser um bom aluno de brandos costumes com campos de golfe verdejantes em "aldeias" algarvias, eram basicamente compostas por jovens, sendo que na atualidade a juventude se estende um pouco mas não demais. Gente naturalmente revoltada com os políticos que lhes fizeram propositadamente parecer a vida fácil e plena de caminhos, os mesmos contra quem se lançaram num ajuntamento frente à AR. Na sua maioria, parece-me de novo, gente de muita ganância e gente que se vê obrigada a render-se à ganância e salvaguardo algumas exceções apenas pela noção de que é natural que existam. Neste grupo de atacados estavam os eternos candidatos a grandes guias do proletariado e não proletariado que têm vindo a propor soluções tão originais para a crise do endividamento e falta de trabalho sério de quase toda a minha vida como "cortar com a troika e arranjar empregos" (cito de cor). Estes jovens e menos jovens inscrevem-se numa ou várias gerações com muito pouca cultura geral e muito pouca cultura política, regra geral. Não sendo defensor de teorias da conspiração, parece-me que também terá sido previsível. Ou espero que o tenha sido para não ter que mandar mentalmente os nossos sucessivos governantes a uma Junta Médica... E suponho que seja daí que terá nascido a revolta mediática contra todos os alvos errados, nomeadamente os aparatchiks, nome que vai bem com troika, do sistema, e o próprio FMI, que já nos procurou salvar de nós mesmos por mais de uma vez.

Como não pertenço exatamente à geração do Maio de 68, gosto pouco de ver montras partidas a eito e carros virados de pernas para o ar e a arder - alvos errados. Como não pertenço exatamente à geração dos neoanarquistas, gosto pouco de ver ataques aos McDonalds por mais do que uma razão: porque não têm absolutamente nada a ver com o caso e porque provavelmente ainda vão dando de comer a quem não pode ir a restaurantes ditos normais sem precisarem de aproveitar a baixa da TSU para manter em baixa os preços que outros mantêm em alta. Claro que não me cabe aqui apontar os verdadeiros alvos, os cartelistas contra a lei tão cega, aqueles a quem tudo aproveita de maneira descarada. Sou, aliás, um pacifista  e gosto de atitudes construtivas. Mas que deveria ser fácil de encontrar os verdadeiros culpados, provavelmente seria. Isto é, se tivéssemos uma geração revoltada com uma consciência mais fria. Mas como também isso nos foi sendo roubado com os aplausos e cumplicidade da sociedade em geral, não vejo que moralidade possa ter agora essa mesma sociedade em geral para apontar dedos acusatórios... 
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