Um dia bom para os jornalistas...
Hoje foi, parece-me, tenho aliás a certeza, um dia bom para os jornalistas e os comentadores. Foi ainda um dia que, para a generalidade dos portugueses, parece-me igualmente, se inscreveu na normalidade prevista e com certeza na animação e colorido previsíveis. O que se seguirá, permitam-me contrariar alguns comentadores, dever-se-á inscrever no rumo antevisto das coisas...
Eu, que já dei a minha quota-parte de comportamentos revolucionários e contrarrevolucionários em manifestações de rua, eu que me tornei num trabalhador normal e supostamente intelectual de blog (porque as teclas não escrevem, ainda e por si sós, no estado atual da tecnologia), verifiquei um facto nada curioso: as megamanifestações que hoje tiveram lugar neste torrãozito conhecido por ser um bom aluno de brandos costumes com campos de golfe verdejantes em "aldeias" algarvias, eram basicamente compostas por jovens, sendo que na atualidade a juventude se estende um pouco mas não demais. Gente naturalmente revoltada com os políticos que lhes fizeram propositadamente parecer a vida fácil e plena de caminhos, os mesmos contra quem se lançaram num ajuntamento frente à AR. Na sua maioria, parece-me de novo, gente de muita ganância e gente que se vê obrigada a render-se à ganância e salvaguardo algumas exceções apenas pela noção de que é natural que existam. Neste grupo de atacados estavam os eternos candidatos a grandes guias do proletariado e não proletariado que têm vindo a propor soluções tão originais para a crise do endividamento e falta de trabalho sério de quase toda a minha vida como "cortar com a troika e arranjar empregos" (cito de cor). Estes jovens e menos jovens inscrevem-se numa ou várias gerações com muito pouca cultura geral e muito pouca cultura política, regra geral. Não sendo defensor de teorias da conspiração, parece-me que também terá sido previsível. Ou espero que o tenha sido para não ter que mandar mentalmente os nossos sucessivos governantes a uma Junta Médica... E suponho que seja daí que terá nascido a revolta mediática contra todos os alvos errados, nomeadamente os aparatchiks, nome que vai bem com troika, do sistema, e o próprio FMI, que já nos procurou salvar de nós mesmos por mais de uma vez.
Como não pertenço exatamente à geração do Maio de 68, gosto pouco de ver montras partidas a eito e carros virados de pernas para o ar e a arder - alvos errados. Como não pertenço exatamente à geração dos neoanarquistas, gosto pouco de ver ataques aos McDonalds por mais do que uma razão: porque não têm absolutamente nada a ver com o caso e porque provavelmente ainda vão dando de comer a quem não pode ir a restaurantes ditos normais sem precisarem de aproveitar a baixa da TSU para manter em baixa os preços que outros mantêm em alta. Claro que não me cabe aqui apontar os verdadeiros alvos, os cartelistas contra a lei tão cega, aqueles a quem tudo aproveita de maneira descarada. Sou, aliás, um pacifista e gosto de atitudes construtivas. Mas que deveria ser fácil de encontrar os verdadeiros culpados, provavelmente seria. Isto é, se tivéssemos uma geração revoltada com uma consciência mais fria. Mas como também isso nos foi sendo roubado com os aplausos e cumplicidade da sociedade em geral, não vejo que moralidade possa ter agora essa mesma sociedade em geral para apontar dedos acusatórios...
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home