Fragmentações
O Monte da Virgem, a telescola,
Já não escrevíamos pharmácia
Mas pronunciávamos pharmacie
E tudo vai dar ao mesmo
Tecto é teto, acção-ação,
E tudo vive em imagens
Todas soltas, fragmentadas,
O Sangue na Estrada, Kimba o Leãozinho Branco,
As Conversas em Família, que pop consigo ser!
E o tempo a não se ver...
A não se ver por não ser...
Tudo recursos de estilo,
Apóstrofes ao Deus-dará,
E o que houve e o que haverá,
Metáforas em cada objecto
E a estranha polissemia
Tão multidimensional
(Parece uma série na Fox),
As línguas na Torre de Babel
Pintando e comendo o pastel;
E o que significa a quinta?
Poemas ou Alentejos?
Quem dera saber de algo
Mais do que de opiniões...
Ou não saber, já nem sei...
Mais do que imaginei... Imagem de: www.flickr.com (composição de Gleonhard).
É tarde, é tarde, é tarde! (a Lewis Carrol e não só)
Eis-me uma vez mais no modo "automático"...
Life is a game. Do you want to play? - alguém o disse alguma vez
(Mas foi há tanto tempo... Quase parece amanhã.)
E é tarde, é tarde, é tarde!
Tarda Portugal do outro lado do espelho.
E é tarde, é tarde, é tarde!
Esgueira-se entre os exércitos encartados o Coelho.
Entre os exércitos de mendigos mentais
Comandados por diabos de bom tom, medievais
Que agem tão ruidosos entre o povo tão sereno
O povo ensurdecido, todo o mundo distorcido
Pelas televisões fora formigueiros visuais
E todos querem mais, querem mais e mais e mais!
E é tarde, é tarde, é tarde!
E Portugal inteiro arde
Na depredação geral
No empobrecer mental...
Todos com o rei na barriga.
Felizmente ainda há vida! Imagem de: http://porquemedize,blogspot.com.
Rap do desterro
Na terra da anarquia do punho de ferro
De onde os competentes fogem para o desterro
Prendem-se na rua os espoliados
E enganam-se com números os tolos e os calados
Clamam com voz grave os poetas sofríveis
E as coisas que importassem mantêm-se invisíveis
Encerram-se oceanos e as terras aráveis
E cobrem-se os terrenos de energias renováveis
Que enfeiam, desperdiçam, os vales e as montanhas
Com sombras de ilusão e promoções tacanhas
Pelas televisões tudo é popular
Concursos e cantigas e a alegria de ignorar
E quer-se proibir e moralizar
Mudo o sentimento e o raciocinar
Na terra da anarquia do punho de ferro
Um gueto da Europa que adia o seu enterro
Matam-se a poesia e a eficácia em simultâneo
Vende-se a ideia do fado extemporâneo
E a bola e a modéstia e revoltas fingidas
E resta só o rap às almas coagidas
Manhã
Comece bem o seu dia com Minute Maid
(reza a imagem no porta-guardanapos de papel):
É uma proposta de fuga para os laicos da poesia.
E quem quer fugir? Eu não.
Todas as latitudes se confundem estranhamente
No ventre bojudo deste mundo,
Algures no cosmos curvo de Einstein
Onde parecem situar-se os cientistas e os artistas
Concordantes, discordantes e mutantes
Como os místicos, os dísticos e os mitos;
E não tenho pátria que não esteja
Em muito pouca gente como os vejo.
Ah, santíssima relatividade do dia que começa!
Acordo cansado sem a certeza de acordar,
Percorro o dia como um peregrino a passear,
Lateja o coração, o sol de inverno, o próprio ar
E engulo a manhã nova, provavelmente a sonhar.
Quem sabe o que é o quê no labirinto neuronal?
As eras sobre as eras e as crateras no final...
Mas nada substitui um abraço ao acordar
E a ilusão talvez das aves a sobrevoar. Imagem de: http://danbrazil.wordpress.com.
Poema moderno
Consta que Salazar
(velha sombra decrépita da mentira persistente)
Abominava o tabaco
E não tolerava que fumassem junto a si...
Era um ditador e poluente.
Eu sou eu somente.
E todos são livres de não fumar aqui. Imagem de: www.jornalmudardevida.net.
advertising Counter