segunda-feira, março 22, 2010

Prometo rir e folgar





Prometo rir e folgar
Do sol flor ao sol alvar
Beijar cada palmo de estrada
Cantar cada nota inovada
No dia da revolução
Cento e oitenta graus de paixão
Um Deus que conheça a emoção
Os dilúvios da existência
Varridos da consciência
O fim da ciência, aliás
E eu folgarei, dançarei
Num mundo sem regras nem lei
Folgarei como um rapaz
Conviverei com os escravos
Darei a mão aos libertados
Em mundos iluminados
Pela concórdia permanente
Folgarei com os desgraçados
No tempo como água corrente


Imagem de: www.ibiblio.org (tela de Bruegel).

segunda-feira, março 15, 2010

Da ausência eventual de Deus





Recordo tecnicamente o êxtase da existência
A mão divina como uma rede para equilibristas
Isso era num espaço que alargava as vistas
Num tempo não consumido pela luz da ciência

Fiz-me então um ultra-romântico bizarro
Como uma Cassandra sem fé sustentável
Preso a uma cruz de pau maleável
Denso como o incenso que imita o cigarro

Nem sei bem se existo no fado da morte
No vira da vida, no can-can perdido
Que me chega vago ao cérebro, ao ouvido
Todo diluído num remoinho forte

Quero uma moeda para cruzar o rio
Quando chegue a hora pouco consistente
Um beijo na cama como manta quente
Para contrariar o inverno e o frio
Para equilibrar o grande vazio
O imenso buraco de um Deus insciente


Imagem de: http://exigeant.canalblog.com (tela de Ben Goossens).

segunda-feira, março 08, 2010

No mundo, hoje





No mundo, hoje, não há cães saltando
Nem gatos caçando ratos imaginários
As crianças estão todas presas em aquários
E supõe-se que as nuvens lentas vão passando

Tudo é alegre e triste em simultâneo
Como a vasta indecisão do fim dos tempos
Que é salvação para alguns e também tormentos
Um terramoto estranho e tão contemporâneo

Tudo muda sempre sem se ver
As estações que só persistem na memória
Velhos combóios vagos e sem história
Porque história alguma existe para se entender


Imagem de: www.utahskies.org.
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