quarta-feira, novembro 25, 2009

Mini-ode decadente





Após mais noventa minutos imerso na neblina densa
De uma fábrica cheia de operários contentes, anestesiados
Com a noção automática de o poeta ser incompreensível e maluquinho...

Quem dera ter sabido compor uma ode triunfal...
Dói-me mentalmente a garganta de me curvar em vénias correctas
E escrevo versos que ninguém irá compreender.
Eia tios patinhas e concursos de danças no gelo!
Eia sites escondidos em plena vista na Internet!
Eia shopping centers brotando como cogumelos!
Eia manutenção alegre do status quo!
Eia sorriso ou raiva de quem não cante no coro!
Eia comovente judaico-cristianismo flutuante!
Eia todas as igrejas de blocos pesados em derrocada,
Casas novas, canais novos, frases novas, estonteante novo-novismo!
Eia a crise que é sempre culpa dos outros!

Eia-hé-hô-hup-lá e tá-se bem.


Imagem de: www.sherbornehouse.org.uk.

segunda-feira, novembro 23, 2009

Engrenagem





Passa um bicho sossegado
Pelas traves carcomidas
Entre as sombras escondidas
E um raio de luz isolado

Sopra um vento inesperado
Um tremor indefinido
E eis o bichinho caído
Num mecanismo apanhado

E rodam as engrenagens
No seu ruído infernal
Noções de bem e de mal
E o bichinho nas voragens

Roda a porca, o parafuso
Choca o pistão fortemente
O gongue da hora urgente
Num labirinto difuso

E o bicho foge ao abismo
No inferno do movimento
Atirado a contratempo
Nos fundos do mecanismo

Cai um negrume vermelho
E o mecanismo insciente
Mói o bichinho inocente
No lagar do vinho velho

Quem lhe bebe a vida então?
Mais bichos atarantados?
Mecanismos escravizados?
O carregador do botão?

O esmagar é incalculado
Captura mortos e vivos
E o deus das flores e dos crivos
Dorme num quarto isolado


Imagem de: www.worldclasspromotions.com.

segunda-feira, novembro 16, 2009

Não corras





Não corras de rush matinal
Aos ritmos da tempestade
Que nas ruas da cidade
O passeio, o patamar,
As casas, estão no lugar
E a chuva cai sempre igual

Não se encurtam os segundos
Nos ponteiros da agudeza
Que não corrompe a beleza
Do fluir das estações
Nem pressas, nem lentidões
Tão regulares nos seus mundos

Não agarres comoções
Como quem persegue a vida
Como se fora a corrida
Se todos os elementos
Desde sempre existem lentos
Como Deus e as criações


Imagem de: http://melancholy-gretel.com.

sexta-feira, novembro 13, 2009

Pensamentos





O sol que trespassa as nuvens
As nuvens que calam o sol
As línguas que se entrelaçam
De pensamentos impuros
Porque tombam de maduros
Como a maçã na floresta
Como a silva no pomar
Não há pensamentos simples
Na auto-estrada neuronal
Pensamentos buzinando
Os dias entrelaçando
E dói a cabeça ao de leve
No Outono meridional


Imagem de: http://3danimation.e-spaces.com.
advertising
advertising Counter