Chuva picotada
Cai uma chuvinha picotada
Como naqueles recortes do jardim de infância,
Como na infância embalsamada,
Como na memória trucidada...
Cai uma chuvinha como um Passatempo Infantil
Num canal a preto e branco há tanto tempo!...
Espera... Falámos certa vez, não foi?
Conversámos longamente e senti-me alguém
Porque eras freak e fixe e feminina
E nem pensavas picotar-me a existência.
A memória recorda assim todos os fantasmas,
Absolutamente caótica e ocasional,
O Vilarinho, agora - e morto já! -, a antever-me a fama,
Sempre o tempo como um sonho difuso,
Ora próximo, ora distante, ora confuso...
Cai uma chuvinha picotada,
Espírito Santo chovendo sobre a igreja
E todos os templos do universo sobre a minha vida.
Blue cheer, vulcão negro, yellow submarine...
Nunca provei, mas sei como quem sente
A vida como ácida e impermanente.
Imagem original de www.flickr.com.