Esplanada
Passa a brisa extemporânea
Na rua contemporânea
Alagada de calor
E as pessoas falam alto
Falam quase em sobressalto
Na esplanada ou onde for
Passa uma mulher obesa
Que eu vejo da minha mesa
Com a mochila descaída
E um heroinómano indolente
Pede moedas à gente
E está sempre de fugida
Passam moças tatuadas
E homens de expressões cerradas
Falando por entre os dentes
E passam gatos e cães
E filhos com as suas mães
Choramingando presentes
E estão todos de passagem
Como a vida que é uma imagem
Em constante mutação
Passa o calor e o frio
E o mundo fica vazio
Enquanto muda a estação Imagem de: http://intimo.blogspot.com/.
Nortada
Dia pontilhado de farrapos brancos
Incerto como o futuro e o próprio passado
Tudo imagens lentas em cinema mudo
E nas praias com o mar encapelado
Gritam as gaivotas e há pulgas da areia
Que gritos tão tristes de Verão adiado
Que luta insensata entre o mar e a rocha
E tudo é silêncio no mundo calado
Tudo imagens lentas velhos fotogramas
E ao fundo do dia com o sol a surgir
Toca a pianola e a gente a dormir Imagem de: www.amalfihome.com.
Rios secos
Quantos rios correm para o mar
Que nem rios são, ribeiros, fios de água,
Leitos esgotados, secos como a alma...
E que alma tem exactamente o mar,
Esse largo poço todo imprevisível,
Estranha biblioteca de rios e de almas,
Boião fervilhante de vida primal?
Também eu já julguei ter uma alma...
Também eu já senti, mas sentir dói...
Hoje quero ser lama porque é moldável
E guarda apenas a memória em si,
Vaga, difusa, só profunda na aparência. Imagem de: www.poiemadesign.com.
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