Um tal Carlos Reis, recém-elevado a reitor, mais uma figura sinistra do sistema e do regime, extremamente nervoso e acintoso como todos eles, esteve no Prós e Contras a defender acirradamente o Acordo Ortográfico, juntamente com a autora de livros que não leio Lídia Jorge. O encontro contou igualmente com detractores do Acordo, um desacordo na verdade, e ainda com representantes de outros países lusófonos, nomeadamente o Brasil e Angola.
Compreendo perfeitamente e aceito que os angolanos não sintam as implicações deste acordo que visa uniformizar o português numa língua rude e simplória, visto que a língua portuguesa se encontra, de facto, em mero desenvolvimento no seu país. Compreendo e aceito de igual modo que os brasileiros defendam o acordo, uma vez que este lhes permite posicionarem-se num patamar superior e, de certo modo, vingarem-se do tal colonialismo que lhes ensinam no ensino primário. Mas não compreendo nem aceito que portugueses de Portugal se dispam de todo o brio para perseguirem a miragem de uma internacionalização forçada atrelada ao Brasil. Porque será que o Reino Unido nunca se sentiu na obrigação de assinar acordos deste calibre com a superpotência estadunidense? Brio, meus caros. Coisa que uma certa casta de portugueses actualmente no poder desconhece por inteiro.
Temos, então, seis anos até que este acordo entre plenamente em vigor e até que eu, que nunca na minha vida dei um erro ou quase, comece a praticar atentados bombistas na ortografia por não ter a certeza de como se escreve esta ou aquela palavra... Afirmam ("eles", que eu adoro este termo jocosamente paranóide: "eles", embora no caso presente tenha bem a noção de quem "eles" são) que a simplificação da grafia vai facilitar a aprendizagem e conduzir a uma escrita mais perfeita para todos. Discordo. E temo por quantos já escrevem com muitíssimos erros e passarão a escrever ainda com mais. Temo também pelas novas gerações que actualmente aprendem a escrever com determinada grafia e subitamente, durante o seu percurso escolar, terão que a modificar por inteiro. Será uma geração condenada pelas politiquices destes indivíduos.
Mas estes indivíduos - e "eles", estes indíviduos, têm nome e esse nome é PS, o PS de José Sócrates e todos os seus acólitos - caracterizam-se precisamente por um comportamento maníaco e obsessivo que os leva a modificar tudo o que seja imaginável. Pode até ser que as coisas estejam bem... Pode até ser que as coisas não estejam exactamente bem mas possam ficar pior se forem mexidas... Não importa. Há que mexer em tudo, modificar tudo, mover tudo cento e oitenta graus. Este desgoverno actual, como o desacordo, ficará conhecido pela sua vasta obra de calamidade e destruição arrogantes. Este desacordo é mais uma facada nas costas da democracia, visto que ninguém consulta ninguém quando se trata de questões da maior importância: os iluminados aplicam e já está.
E mais não digo, uma vez que muitos outros, se calhar também em Angola e no Brasil, saberão discorrer sobre o assunto com maior propriedade. Quero apenas deixar bem claro, já que falamos em propriedade e que a propriedade do que escrevo é minha, o seguinte: se algum dia alguém se lembrar de me publicar, o que é uma hipótese, ainda que remota, ou quem sabe, livre-se de modificar a grafia antes de eu mesmo ter sido forçado a modificá-la. Que é como quem diz, tudo o que escrevi até agora e o que vier a escrever durante os próximos anos é para manter no original. Quem desafiar este pedido poderá contar com a minha maldição eterna.