Vestidos com uniformes cinzentos,
Sempre vestidos, revestidos, nunca nus,
Disfarçam sorrisos amarelecidos
E sempre em alerta vermelho
Buscam sugar, uniformizar,
Amadurecer, apodrecer...
Trazem-me preso a este mundo
E eles, presos a esses medos...
Nem mil revoluções os moveriam!
Nem mil messias os libertariam!
Vestidos, uniformes e cinzentos,
Analisam, avaliam, desconfiam,
Mas nunca me anularão!
Portugal vive (ou morre) uma triste época de conformismo sebastianista, aguardando permanentemente por Dons Sebastiões apodrecidos mas, como todos, permanentemente dignos da maior desconfiança... Os portugueses invejam, avaliam e desconfiam do vizinho e sentem-se, sobretudo, mal amados. Diz-me, leitor, que não é verdade que já, por vezes, o mero facto de teres sido simpático e educado com alguém logo lhe eriçou todos os pêlos do corpo, num gesto indisfarçado de desconfiança pura... Como os portugueses não estão habituados a serem bem tratados, quando tal sucede logo surge a proverbial desconfiança. Diz-me que nunca foste indisfarçadamente avaliado pelo facto de não gostares de usar fato e gravata... Diz-me que nunca foste indisfarçadamente avaliado pelo facto de não trazeres o cabelo cortado e penteado à "pessoa respeitável"... Diz-me que nunca foste simplesmente avaliado porque sim e porque todos têm que ser avaliados... Em todo o caso, a desconfiança está instalada e o caminho permanentemente aberto para o Grande Pai que a todos meta na ordem! Com toda a franqueza, nem parece que este tenha sido o país do 25 de Abril em que as multidões clamavam por liberdade... Claro que as multidões são geralmente estúpidas enquanto tal, pelo que talvez nem soubessem exactamente pelo que clamavam... Nem mil revoluções os moveriam um grau que fosse... Quanto a Jesus Cristo, já morreu há mais de dois mil anos e a crença no seu regresso assemelha-se na perfeição a mais uma vertente lata do Sebastianismo.
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