quarta-feira, janeiro 18, 2006

Fumo

E eis que me deu para escrever um soneto! O Eu disse-me: "Tem calma, não é a tua vocação, deixa essas coisas para mim..." E eu limitei-me a responder-lhe: "Pois, mas também já te li muita coisa que de soneto não tem nada. Nunca me pareceu que fosses um sonetista de vocação". Bom, e assim ficámos. É provável que haja quem ache que se trata de uma forma ultrapassada, que já muito melhores poetas compuseram sonetos e que não há nada de novo a acrescentar... Passa-lhes o fulcro da questão totalmente ao lado. Quem segue modas é a imprensa e o poeta escreve o que quiser, inclusive porque não tem que cumprir contratos com nenhuma multinacional. Se me apetecer, ainda sou capaz de criar a cantiga, o vilancete, a exparsa ou a sextina ocasionais...



Vêde o fumo lento da cigarrilha,
Sublimando o ar, mastigando a luz,
Chuva divina, licor de alcaçuz,
Vento solar, do meu navio a quilha!

Vêde como ascende, só mas feliz...
Nada deve ao mundo, a mim ou a ti.
Todo sugestão, é um deus que ri,
Trova do silêncio, fuga e raiz.

Paralisa o tempo, o gesto, o olhar
De quem fuma sonhos soltos em tragos
Como almas libertas a ressoar

E a dança de mares, rios e lagos
Que inventa o xamã a revoltear
É o bem e o mal dos poetas vagos.



Imagem de www.wendydent.com.

Poema de Joaquim Camarinha

1 Comments:

Blogger Jorge Simões said...

Muito obrigado pelas palavrinhas! :)

12:32 da tarde  

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