terça-feira, janeiro 03, 2006

Blá-blá-blá

Todos se querem fazer ouvir...
Os bebés, que guincham a plenos pulmões.
Os outros, que se repetem,
Repetem a mesma frase sem cessar,
Até que alguém os escute,
Finja escutar
Ou mande calar.
Os animais também se querem fazer ouvir...
Lambem, mordem, arranham e abanam a cauda.
Pelo menos, satisfazem-se com uma festa distraída...
O universo inteiro não pára de falar...
Está presente e faz-se ouvir
Mas não fala língua de gente
E mesmo as línguas de gente são sempre pessoais.
O telefone toca... Quem se quer fazer ouvir?
Só o silêncio não se ouve
Por não passar de uma noção abstracta.
É um cosmos cheio de ruído
E vale-nos somente, no meio das ondas sonoras em colisão,
O som em cascata do vinho lançando-se no fundo do copo.



Imagem de http://derjan.de.

Poema de Joaquim Camarinha

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