Fantasmas
Das longas linhas metálicas de escravos em correntes lentas,
Quando o orvalho frio imita o céu vácuo na terra vazia
E o silêncio se transforma em silêncios e em ruídos depois,
À hora do terror e pânico invertidos, da aceitação,
Que todos os fantasmas se vêm aconchegar na minha cama imensa,
Desfeita de sonhos confusos da noite serena...
Eles vivem em todas as não-vozes,
Nos não-risos,
Nos não-protestos atrás das pesadas portas
Que me guardam e protegem de vidas passadas
E de traumas kármicos amontoados na distância de mim mesmo.
É uma hora triste, um tempo fora do tempo,
De movimento tetraplégico numa bolha de oxigénio,
Essa hora dos fantasmas, tão vivos, flutuantes e apertados,
Milhões de vidas cansadas e entregues à aceitação...
Por isso, eu amo a tarde com todos os seus brilhos óbvios,
O sol queimador de neurónios, o amigo sol narcótico...
Por isso, eu amo ainda mais a noite, quando os outros dormem indefesos
E os fantasmas despertam e se humanizam...
Juntos inventamos poemas, filosofias e brincadeiras,
Juntos rimos, tão diversos nas nossas igualdades,
Juntos balançamos ao ritmo implacável da existência,
Sem danças absurdas de esqueletos em cemitérios neogóticos.
Imagem de http://oswaldism.de.
Poema de Joaquim Camarinha
1 Comments:
...e os fantasmas despertam e se humanizam cuando nos os chamamos. O mundo esta cheio de sonambulos que nao querem avrir os olhos. E o poeta quem debe falar para eles.
Muito bom o poema
Um beijo.
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