Para quê tanto sofrimento, pergunta o Gedeão...
E eu sou a última sombra, na penumbra atrás do balcão.
Fizeram uma festa e partiram todos...
São um pouco como os espíritos inquietos do Shining,
Sempre por cá mesmo quando ausentes
E abandonam à passagem um rasto peganhento
De copos vazios, cinzeiros cheios e fumo ectoplásmico
Que me entra pelas narinas e vai directamente ao cérebro.
Espera... Deixa-me acender um cigarro também
Para ascender às profundezas enquanto arrumo os restos da sessão...
Parti um copo!
Não faz mal. Tudo se parte e não vale a pena colar cacos porque há sempre novos copos.
Algo se move a um canto... Ratos? Não. Apenas uma ilusão e a vida é feita de ilusões...
Dei um mau jeito nas costas ao debruçar-me para apanhar um maço amarrotado do chão.
Que dor! Injustiça! Sofrimento!
Pergunta-se um certo poeta para quê tanto sofrimento...
Para quê? Ora, para quê! O poeta não entende nada da vida!
A única realidade máxima é que tem que haver quem arrume o que se vai desarrumar e arrumar e desarrumar e arrumar...
E talvez tomar um analgésico para minorar o sofrimento atroz das costas.
Imagem de www.nyu.edu (tela de John Sloan).
Poema de Joaquim Camarinha
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