Alice
Dizem-me que há pessoas más...
Não sei, porque além do horizonte de estupidez e loucura
Somos engolidos por peixes gigantes ou caímos no infinito,
Como aquela mulher de expressão alucinada, à mesa do café,
Fitando infinitamente a parede vermelha, batucando a mesa
E tendo pensamentos que não me importo de ignorar,
Porque talvez dois e dois nem sejam um algarismo,
Podem ser um símbolo, porque não um símbolo?
E, no fim de contas, todos os números são símbolos...
Dizem-me que há pessoas más
E eu só vejo bruma espessa quando olho...
Nos rostos, nas almas, na vida indigna desse nome.
E, no fim de contas, más como quem?
Como as legiões infernais de nomes bizarros?
Como rainhas a ceifar pescoços a soldados de cartas?
Como a cobardia inominável dos políticos da vida normal?
Muito se espantaria Alice se do espelho passasse a esta dimensão...
O chapeleiro louco tomou o poder
Mas foi guilhotinado pelos homens de cinzento.
Imagem de http://kmzpub.ru (do jogo Alice, concebido pelo designer American McGee).
Poema de Joaquim Camarinha
1 Comments:
Perfeito. Este e os anteriores. É pelo menos o que acho. Para quando é que te editam em livro?
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