Uma andorinha cansada
"Andorinha, a Primavera?"
"A Primavera morreu".
"E o teu andorinho, que lhe sucedeu?"
"Bateu asas e morreu".
"E todos os que voaram?"
"Nos quatro cantos do mundo. Mortos e olvidados".
"E a alegria de voar? Porque pousaste, andorinha?"
"Também morreu. Cansei-me. Voei demais".
Não lhe vi o bico triste,
Antes normal, tão normal, passarinha,
Uma ave quase banal.
"Mas tudo é morte para ti?"
Fitando-me em cheio nos olhos
Como vem nos manuais,
Disse-me a andorinha:
"Na vida tudo é morte pura.
Nem tu nem eu existimos,
Nem esta nossa conversa,
Nem o que possas escrever.
Não tenho que ser da noite
Para entender a negridão
Ou a branquidão, se preferes".
Imagem de www.darkpisces.net.
Poema de Joaquim Camarinha
2 Comments:
Gosto da Poesia que aborda o vôo, as aves, por isso foi-me agradavel esta leitura.
Lindo poema, mas tadinha da andorinha. Bom fim de semana
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