quinta-feira, outubro 27, 2005

Alexandre

Eu não tenho filhos nem prevejo tê-los. Tenho pena, mas a verdade é que não encontro mãe para eles e não me acho talhado para a vida familiar. Entretanto, no decurso de uma conversa recente com o o meu heterónimo (estranhamente, ele afirma que eu é que sou heterónimo), descobri que ele tem um filho. Não lhe perguntei como ou onde o arranjou pois achei que poderia estar a ser demasiadamente indiscreto. O facto é que ele me mostrou um poema dedicado ao filho. Invejei-o, pois também gostaria de ter um filho a quem dedicar poemas... Sempre variaria nas minhas temáticas e mostraria ao mundo que sou capaz de amar alguém. Mas cada um é quem é e não pretendo mudar quem quer que seja. Nem sequer é possível fazê-lo. "Tentei fazer este poema à tua maneira", disse-me ele. "É um exercício e gostaria que o avaliasses..." Após uma leitura, disse-lhe que me parecia bem. "Como sabes, não tenho vontade de me publicar em blogs. Mas pensei que talvez não te importasses de me publicar este... Uma vez que se insere no teu estilo..." Renitente, embora, no início, acabei por aceder. Na verdade, é difícil recusarmos coisas ao nosso pai...



É tão engraçado quando me dizes
Que tenho o cabelo cinzento
Porque não se trata, aos teus olhos,
Da cinzentidão de um dia triste
Mas do mar revolto, capa do fundo,
A vida inteira, as correntes, o mistério,
Tanto que é, fórmula mágica de Harry Potter...
Todas as magias são possíveis
Para quem encontra amor e encanto
Em cabelos cinzentos, não grisalhos,
Que para outros são apenas superfície,
Camisas de forças, tentáculos, monstros marinhos, peixes grandes engolindo os mais pequenos!
Tudo em ti é ainda simples:
O céu azul, o cabelo cinzento, as cores do mundo.
Meu melhor amigo, meu único amigo,
Tristemente perto das marés cinzentas
Onde se afogam os perdidos e os loucos...
Quero tanto partilhar-te um pouco mais
Antes que te pesquem à socapa, de arrastão
E enfim te limpem as tripas e a alma!...

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Gostei da ideia e do modo como foi expressa. Além disso, acho que deve ser o poema de amor mais bonito que alguma vez vi. Beijo grande.

1:06 da manhã  

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