quinta-feira, março 16, 2006

Pseudo-gótico (a Ian Curtis e Peter Murphy)


Entre cercas corroídas, aguçadas,
Submersas na névoa rastejante como orvalho nocturno,
Vemos silhuetas, tantas, em congeladas poses rituais...
O anjo de olhar eternamente fixo no negrume entre os astros,
Nos rebanhos de nuvens que passam rápidas e indiferentes,
A jovem pálida derramando oceanos de lágrimas inúteis,
De olhar secreto, para sempre colado ao mármore branco, aos líquenes,
Os amantes contrariados a quem foi roubado o direito ao ódio mútuo,
Dançando, solenes, ao ritmo de estalidos ósseos sob o luar frio,
Flores murchas, heras descendentes, eras decadentes...
Chega um espírito jornalista e interroga um descarnado:
- O que tem a dizer-nos acerca da eternidade?
- Sinto-me bem. Muito bem. Não mudaria em nada a minha morte.
Vibra-lhe um sorriso impalpável nas fossas oculares, no maxilar descolado.
Alguns focos tremeluzem ao pulsar mecânico do gerador,
Câmaras focam uma campa rasa, uma cruz de madeira carcomida...
É lá que durmo. Sou a estrela e declino responder a todas as perguntas.



Imagem de www.witchtour.homestead.com.

Poema de Joaquim Camarinha

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