As rabanadas da minha mãe
Recordo-me hoje das rabanadas
da minha mãe
Porque está um céu cinzento de
Natal
E me recordo dos seus modos
doces na velhice
E da fragilidade desfeita como
o mel derretido
Ou das rabanadas sem mel com
gosto a mel
E porque faço anos sem fazer
anos
Hoje, copiando sem copiar o
incopiável
E no universo onde se movia
tudo se esboroou
Como uma broa de mel fresca
que comprávamos por um escudo
Uns mortos, outros cegos,
outros acabados
Todos deixaram de beber, fumar
e talvez riam pouco
E eu, simultaneamente jovem e
sénior à volta da mesa
Entre risos e gargalhadas de nós
que nascemos mais tarde,
Recordo-me dessas rabanadas
sempre frescas
Do gosto que nunca envelhecerá
nalgum limbo meu
Para além do além porque é
sempre mais além
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