domingo, dezembro 22, 2013

As rabanadas da minha mãe


Recordo-me hoje das rabanadas da minha mãe
Porque está um céu cinzento de Natal
E me recordo dos seus modos doces na velhice
E da fragilidade desfeita como o mel derretido
Ou das rabanadas sem mel com gosto a mel
E porque faço anos sem fazer anos
Hoje, copiando sem copiar o incopiável

E no universo onde se movia tudo se esboroou
Como uma broa de mel fresca que comprávamos por um escudo
Uns mortos, outros cegos, outros acabados
Todos deixaram de beber, fumar e talvez riam pouco
E eu, simultaneamente jovem e sénior à volta da mesa
Entre risos e gargalhadas de nós que nascemos mais tarde,
Recordo-me dessas rabanadas sempre frescas
Do gosto que nunca envelhecerá nalgum limbo meu
Para além do além porque é sempre mais além
advertising
advertising Counter