Manuel António Pina
Faleceu ontem, aos 68 anos de idade, o poeta Manuel António Pina, figura maior das letras portuguesas. Não o conheci pessoalmente, isto é, de falar, de conversar, não de ler ou de ver, pelo que não lhe vou dedicar uma elegia. Em lugar disso, dedicar-lhe-ei, supondo que não haja mal nisso, uma lindíssima elegia da sua própria autoria: Extrema-Unção. Com a saudade que merecem todos os que de algum modo a merecem...
Uma breve, amável mágoa à
flor dos olhos, um distante desapontamento,
morrias como se pedisses desculpa
por nos fazeres perder tempo.
Tinhas pressa mas não o mostravas,
receavas que não estivéssemos preparados,
e, suspenso sobre nós, esperavas
que disséssemos tudo, que fizéssemos o apropriado.
Morrer não é motivo de orgulho,
mas estavas cansado demais para te justificares.
Ainda por cima no mês de Julho,
com as férias marcadas, ausentes os familiares.
Tínhamos levado as crianças de casa,
feito os telefonemas, escolhido os dizeres.
O quarto fora arrumado, a cama mudada
com roupa lavada. Só faltava morreres.
8/1/01
Imagem de: www.vimeo.com
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