sexta-feira, maio 15, 2009

O marinheiro temerário





O vento sopra. Sopra e ninguém conhece exactamente a sua direcção. Ventos do Leste, ventos do Oeste, uni-vos num grande jogo de fortuna meteoroilógica e varrei todas as memórias de quando as estações dividiam o ano em fatias razoáveis! Folhas, tão ressequidas, de um Outono perene, arrastadas pelos pavimentos esburacados de modernos materiais, pisos cinzentos, rijos, pavimentos flutuantes... Olhai como gargalham as folhas novas, tenras, verdes, nas copas das árvores iludidas pela distância do lenhador! Senti a felicidade suprema do vivenciar instantâneo e momentâneo! Tudo é transparente como a superfície enganadora do mar alto.
Tudo isto porque me deparei com um marinheiro temerário e contundente que me gabou furiosa e efusivamente a grande tempestade, justificando a falta de peixe pela pesca excessiva dos marinheiros seus irmãos. No dia seguinte, soube que tinha caído da proa onde se debruçava confiante, tendo servido de repasto aos tubarões. Oh, como não desdenharia, então, ter antes sido guerreiro, bombardear raivosamente a maré, a tempestade, os tubarões e cada porto fervilhante em cada continente! Parte de si estava, entretanto, a servir de almoço a um grupo de convivas num restaurante batido pelo sol, numa bela estância à beira-mar.


Imagem de: www.si.umich.edu (tela de Soshi Choshi).
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