sexta-feira, maio 23, 2008

Fragmentos





Os mortos prolongam a eternidade indefinida
Exclamando coisas incisivas e assertivas
Sobre o que sabem e o que desconhecem
Por isso quero apagar-me todas as pegadas
Como a chuva tombando brutalmente sobre a areia
Na rádio dizem que nem parece a primavera
E sobre a areia quente da Etiópia algures
Um rapazito empunha ao alto uma metralhadora
A areia seca cega e constrói flashes de Rimbaud
Todos os fantasmas em hordas confusas em Belgrado
E foi há tanto tempo sob tantos sóis passados
Cravos rubros insensatos em canos de metal
E um milhão de portugueses tem menos de dez euros diários
Enquanto os mercados ditam a subida da gasolina e dos alimentos
Estúpidos mercados que julgam ter aniquilado as revoluções
E outros tantos mortos anunciados engolem ouro em pó
Em restaurantes que a Autoridade teria encerrado e não encerrou
E todos os mortos falam tão alto que magoam a poesia
Os mortos e os vivos e os mortos-vivos em desafinação


Imagem de: www.obstanovka.com (trabalho de Rainer Mutsch).
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