Quem me dera o que não dera...
Quem me dera no tempo de Pessoa,
Quando as coisas aparentavam simplicidade
E se não se ganhavam prémios e louvores
Podiam compreender-se os motivos,
Podiam, pelo menos, compreender-se os motivos!
Quem me dera no tempo de Baudelaire,
Quando as coisas aparentavam simplicidade
E se não se ganhavam prémios e louvores
Era por se ter adormecido sobre o absinto
E os prémios e louvores eram para burgueses!
Quem me dera no tempo de Shakespeare,
Quando as coisas aparentavam simplicidade
E se não se ganhavam prémios e louvores
Era por não haver ainda semelhantes coisas,
Mas recebiam-se favores de damas enfastiadas,
Recebiam-se, ao menos, os seus favores!
Quem me dera no fundo escuro de uma gruta,
Pintando heroicamente cavalos e bisontes,
Pintando-os, molhando-os em sangue de animais,
Sem prémios e louvores, sequer, no vocabulário estreito!
Quem me dera fora do tempo e de tudo...
Quem me dera, francamente, não querer...
Imagem de http://witcombe.sbc.edu.
2 Comments:
Ainda bem que pelo menos o poeta quer escrever!
Beijinho
Sí, y esperemos que continue escribiendo eternamente.
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