sexta-feira, março 02, 2018

Silêncio ruidoso do Natal


Noite de Natal, estou só
Frente à telefonia antiga
Sobre a alcatifa meio rasgada
Toda a gente come o pão-de-ló
Toda a gente bebe a jeropiga
Ou o bolo-rei ou o que seja
Donos do bolo e da cereja
Trocam prendas, cheios de cagança
Fumam muito, enchem muito a pança;
Na poltrona velha, desgastada
Também fumo e penso e nada.
Foi há muito, muito tempo e surreal
Ou irreal (em casa, um vendaval):
A minha mãe na ilusão da caridade
Pai, avó, sepultados na cidade
O meu irmão talvez com os seus parceiros
E eu só, enfrentando esses fantasmas
Na memória, memória que me sarcasmas
Em risos desdentados, pouco inteiros.
Nem um tiquetaque de um relógio inexistente
Todos os ruídos, doidos, só na mente.
E como pode alguém saber o que se sente?

Imagem de: Abandoned Places
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