O pomar da tia Patrocínio
Quando o pomar da tia Patrocínio era imenso,
A padaria, a loja, a furgoneta, a Casa Grande,
Tudo desmesurado, imenso não,
Fazíamos caças ao tesouro e encontrávamos fósseis raros,
As abóboras ofuscavam mais que sóis e os homens pisavam uvas,
Couves e flores, fontanários e charcos
Partilhavam-se em paz desmesurada para a eternidade...
Lembro-me, portanto, do esplendor,
Sinto-lhe o cheiro intenso, toco-o, vejo-o, ouço-o,
Tudo era desmesuradamente calmo por ser tão normal
E vivia-se cada dia sem a noção de se viver cada dia...
Enxadas, regatos, urtigas, figos, cobras de água e morcegos
E o sol, como brilhava, que não brilha nunca mais!
Porque brilha o sol sempre anteontem?
Irei, amanhã, ao pomar da tia Patrocínio,
Explorar minas, fazer cachimbos de cana,
Viver todo o esplendor a posteriori,
Tudo sempre a posteriori na vida a posteriori,
Deixarei que os aromas me comam a alma até além do fundo!
O pior é se nem sequer há alma...
Cala-te memória, que a tua voz distorce,
Falas tão alto, baralhas tudo sem pudor:
Vida e morte, sol e chuva, o tempo e a sua ausência,
Tudo paralisado no umbigo de imagens arrendadas...
Imagem original de http://thompsonriverestates.com.
1 Comments:
Complicado el asunto. Verdad.
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