terça-feira, abril 15, 2008

Os iluminados e o acordo ortográfico

Um tal Carlos Reis, recém-elevado a reitor, mais uma figura sinistra do sistema e do regime, extremamente nervoso e acintoso como todos eles, esteve no Prós e Contras a defender acirradamente o Acordo Ortográfico, juntamente com a autora de livros que não leio Lídia Jorge. O encontro contou igualmente com detractores do Acordo, um desacordo na verdade, e ainda com representantes de outros países lusófonos, nomeadamente o Brasil e Angola.
Compreendo perfeitamente e aceito que os angolanos não sintam as implicações deste acordo que visa uniformizar o português numa língua rude e simplória, visto que a língua portuguesa se encontra, de facto, em mero desenvolvimento no seu país. Compreendo e aceito de igual modo que os brasileiros defendam o acordo, uma vez que este lhes permite posicionarem-se num patamar superior e, de certo modo, vingarem-se do tal colonialismo que lhes ensinam no ensino primário. Mas não compreendo nem aceito que portugueses de Portugal se dispam de todo o brio para perseguirem a miragem de uma internacionalização forçada atrelada ao Brasil. Porque será que o Reino Unido nunca se sentiu na obrigação de assinar acordos deste calibre com a superpotência estadunidense? Brio, meus caros. Coisa que uma certa casta de portugueses actualmente no poder desconhece por inteiro.
Temos, então, seis anos até que este acordo entre plenamente em vigor e até que eu, que nunca na minha vida dei um erro ou quase, comece a praticar atentados bombistas na ortografia por não ter a certeza de como se escreve esta ou aquela palavra... Afirmam ("eles", que eu adoro este termo jocosamente paranóide: "eles", embora no caso presente tenha bem a noção de quem "eles" são) que a simplificação da grafia vai facilitar a aprendizagem e conduzir a uma escrita mais perfeita para todos. Discordo. E temo por quantos já escrevem com muitíssimos erros e passarão a escrever ainda com mais. Temo também pelas novas gerações que actualmente aprendem a escrever com determinada grafia e subitamente, durante o seu percurso escolar, terão que a modificar por inteiro. Será uma geração condenada pelas politiquices destes indivíduos.
Mas estes indivíduos - e "eles", estes indíviduos, têm nome e esse nome é PS, o PS de José Sócrates e todos os seus acólitos - caracterizam-se precisamente por um comportamento maníaco e obsessivo que os leva a modificar tudo o que seja imaginável. Pode até ser que as coisas estejam bem... Pode até ser que as coisas não estejam exactamente bem mas possam ficar pior se forem mexidas... Não importa. Há que mexer em tudo, modificar tudo, mover tudo cento e oitenta graus. Este desgoverno actual, como o desacordo, ficará conhecido pela sua vasta obra de calamidade e destruição arrogantes. Este desacordo é mais uma facada nas costas da democracia, visto que ninguém consulta ninguém quando se trata de questões da maior importância: os iluminados aplicam e já está.
E mais não digo, uma vez que muitos outros, se calhar também em Angola e no Brasil, saberão discorrer sobre o assunto com maior propriedade. Quero apenas deixar bem claro, já que falamos em propriedade e que a propriedade do que escrevo é minha, o seguinte: se algum dia alguém se lembrar de me publicar, o que é uma hipótese, ainda que remota, ou quem sabe, livre-se de modificar a grafia antes de eu mesmo ter sido forçado a modificá-la. Que é como quem diz, tudo o que escrevi até agora e o que vier a escrever durante os próximos anos é para manter no original. Quem desafiar este pedido poderá contar com a minha maldição eterna.

11 Comments:

Anonymous Anónimo said...

A Língua portuguesa está ainda a passar por um período de implantação nos países Africanos de Língua Portuguesa e em Timor Leste. Como esses países já não são colónias portuguesas (o que, parece, alguns portugueses terem dificuldade em aceitar), poderão seguir o português falado em Portugal (10 milhões de habitantes) ou aproximarem-se sucessivamente do português falado no Brasil (220 milhões). A teoria de Darwin é mesmo verdadeira e se Portugal quiser manter a sua língua, orgulhosamente, sem alterações, então em vez das duas formas do português se aproximarem, não! português de Portugal e português do Brasil continuarão a divergir, como tem acontecido até agora. Não pode ser feito tudo de uma só vez, mas deverão haver aproximações sucessivas para não continuarmos a divergir.

O Brasil tem no mundo um impacto muito maior que Portugal , dada a sua dimensão, população e poderio económico que em breve irá ter. O português Europeu tem hoje algum peso muito em função dos novos países africanos e de Timor Leste, mas ninguém garante esses novos países não venham a aproximar-se sucessivamente do português do Brasil e há até já sinais nesse sentido.

Se Portugal permanecer imutável um dia ficará orgulhosamente só: o português de Portugal será uma língua como o dinamarquês, sueco...; algumas das companhias, que hoje até consideram a nossa versão de português, desinteressar-se-ão e o português falado em Portugal será considerada uma versão arcaica de português. Assim, tal como já hoje acontece, se quisermos consultar livros de estudo e manuais técnicos teremos de socorrermo-nos de instruções em português do Brasil, que será cada vez mais diferente do de Portugal. Esta geração terá responsabilidade por isso.

Ambas as versões têm uma raiz comum e divergem apenas há cerca de 250 anos. Aliás, há 100 anos o português falado e escrito em Portugal era bem diferente do actual.

O acordo é mesmo uma decisão política apenas.

Zé da Burra o Alentejano

10:01 da manhã  
Blogger Jorge Simões said...

Caro Zé da Burra, o Alentejano, concordo plenamente com a sua conclusão: o Acordo não passa de uma decisão política. Acrescento: uma decisão política que, à boa maneira da generalidade das decisões políticas do actual governo, passou por cima de todos os interessados. Este governo consultou os portugueses sobre a questão do aborto, porque já antevia o resultado, e por aí se ficou. É impossível não nos sentirmos marionetas... De resto, não sei bem o que é isso do "orgulhosamente sós", salvo uma afirmação alarmista pescada numa situação política de há cinquenta anos. Nada a ver. Sim, já ouvi todos esses argumentos... Mas discordo. A língua existe de modo natural e não deveria caber a uns quantos iluminados do regime torná-la um instrumento simplório e, permita-me que o diga, assassinado na sua componente poética, por razões políticas perfeitamente discutíveis. Se os ingleses estivessem a par da celeuma, até se riam a bom rir com a nossa menoridade! Abraço.

12:58 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

O debate foi uma pérola.
Resumo:

Fátima Campos Ferreira: burra, porque acha que a forma como escrevemos dita a forma como falamos.

Alzira Seixo: louca desvairada e baralhada. Pior que tudo: a autora de um discurso racista e nacionalista.

Vasco Graça Moura: o mestre das piruetas argumentativas. O mesmo discurso nacionalista, mas melhor mascarado.

Carlos Reis: vaidade, vaidade. Mas ainda foi o que melhor se defendeu.

Lídia Jorge: demasiado nervosa para se fazer entender.

Tradutor da bancada: ai que me roubam o tacho.

Linguista da bancada, António Emiliano: o tal que diz que as crianças não têm consciência fonológica. Foi posto no lugar para não dizer burrices.

Uma noite linda, portanto. Parecia o concurso da asneira.

2:29 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Um abraço também pra você!

Zé da Burra...

4:03 da tarde  
Blogger Jorge Simões said...

E um abraço para todos. As opiniões, mesmo que não concorde com elas por inteiro, são obviamente bem vindas. Só gostaria de ver menos anónimos... :( :)

5:15 da tarde  
Blogger L. said...

sou contra o acordo, e acho que prejudica tanto os lusofonos de portugal como os do brasil ou da guiné.

quanto ao portugues (de portugal) se tornar uma lingua como o sueco... nao vejo problema.

nao preciso que o portugues tal como o escrevo hoje seja um best seller tipo paulo coelho, prefiro que mantenha a sua identidade e que as suas metamorfoses sejam naturais e nao forçadas por um acordo que não possui essa organicidade.

guiné, cabo verde, brasil, angola, portugal, etc, todos irao ser forçados a algo que é mais pobre do que aquilo que existe hoje.

eu percebo o que um brasileiro escreve, e vice-versa.

6:01 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Há cerca de 100 anos fizémos alterações nesse sentido que hoje ninguém contesta: basta pegarmos num livro desse tempo e facilmente constataremos muitas diferenças gráficas, por exemplo: commissario, auctoridade, offerecer, allemão, commercio, thermometro, affirmar, jury, official, (e o seu plural) officiaes, monarchia, d'elle, d'ella, d'este d'aquelle, n'esse, n'essa, pharmacia, elephante, sêco, Victor, Luíz, Benguella, Mossamedes, Pôrto, Cintra, Cezimbra, Barca d'Alva...

Zé da Burra...

5:11 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

O Acordo já foi aprovado e assinado pelo Presidente da República. É preciso que não fique na gaveta e que os novos alunos comecem a aprender com as novas regras.

Zé da Burra...

10:55 da manhã  
Blogger Jorge Simões said...

Meu caro Anónimo/Zé da Burra, não me deu um único motivo *lógico* para aplaudir este Acordo. Mas deu-me a entender que gosta de obedecer, assim será?

1:06 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Isso quer dizer que os argumentos dos meus sucessivos comentários no seu "blog" não o convenceram.
Acredito, porém, que alguns visitantes tenham mudado de opinião e fico com pena que você não tenha sido um deles.
De qualquer modo, desejo-lhe as maiores felicidades!

Zé da Burra...

3:03 da tarde  
Blogger Jorge Simões said...

Ah, mas é que eu sou muito recalcitrante! E alérgico ao sistema. As maiores felicidades para si também.

4:44 da tarde  

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